Quatro grupos disputam poder no partido; racha atinge até a família Campos
Sérgio Roxo, O Globo
-SÃO PAULO- Quase três anos depois da morte do então candidato a presidente da República Eduardo Campos, o seu partido, o PSB, corre o risco de se esfacelar. Dividida em quatro correntes, a legenda tenta encontrar um rumo para as eleições de 2018, em meio à disputa interna de poder.
Na última semana, o clima esquentou com a oferta do presidente Michel Temer para que um grupo de dez parlamentares descontentes, que negociava a filiação ao DEM, embarcasse no PMDB. O PSB ainda ocupa um ministério no governo, o de Minas e Energia, com Fernando Bezerra Coelho Filho, mas a cúpula partidária defende o desembarque e tem se oposto às reformas trabalhista e da Previdência.
O quadro é muito diferente do vivido entre 2012 e 2014, quando a sigla recebeu uma enxurrada de adesões, inclusive com filiações de políticos não identificados com as origens socialistas do PSB. Entraram na legenda nessa época, por exemplo, o deputado Heráclito Fortes (PI), que iniciou a carreira na Arena (partido de sustentação do regime militar), e a atual líder da bancada, Teresa Cristina (MS), representante do agronegócio. Ambos fazem parte do time que agora negocia a saída. Em 2012, a legenda foi a que mais elegeu prefeitos de capitais: cinco no total.
— O Eduardo era um polo aglutinador. Nós levamos 24 anos para construir um líder com nível para disputar a Presidência da República. Sem dúvida nenhuma, a morte dele desarticulou o partido — afirmou Beto Albuquerque, que foi candidato a vice-presidente em 2014.
Marina Silva, que assumiu a cabeça da chapa depois que Campos morreu no acidente de avião em Santos, deixou o PSB em 2015, após conseguir regularizar seu novo partido, a Rede Sustentabilidade.
ENTRE PSDB E PT
Além dos dez parlamentares (de uma bancada de 36) que pretendem sair do PSB para se manter fiéis ao governo Temer, há no partido outros três grupos: os que defendem a construção de uma aliança com o PSDB em 2018; os que querem se realinhar com o PT; e os que lutam para que a legenda tenha um candidato próprio a presidente.
O caminho da legenda deve ser definido em outubro, com a eleição de um novo presidente. Marcio França, vice-governador de São Paulo, tenta assumir o posto, hoje ocupado por Carlos Siqueira, um histórico aliado de Campos e de seu avô, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, morto em 2005.
França quer se candidatar ao governo paulista em 2018 com o apoio do PSDB. Como contrapartida, levaria o PSB para os braços do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na eleição presidencial. O vicegovernador paulista tenta inclusive emplacar Ana Arraes, mãe de Eduardo Campos e atual ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), como candidata a vice do tucano.
— O Marcio está vivendo um projeto político de ser governador e para isso quer apoiar de qualquer forma o Alckmin, sem saber se o Alckmin vai conseguir ser candidato. É legítimo o projeto dele, mas é um precipitação querer pegar um partido com a história do PSB, que faz 70 anos no mês que vem, e atirar com tanta antecedência no colo dos tucanos — disse Beto Albuquerque, defensor de uma candidatura própria a presidente, com o argumento de que esse é o único caminho para o partido reconstruir a sua identidade.
Outro grupo, representando pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, e pelos senadores Lídice da Mata (BA) e João Capiberibe (AP), defende que o PSB retome a linha que seguia até 2012, de aliança com o PT. No último dia 13, Coutinho viajou para se solidarizar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sido condenado na véspera a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro. Na conversa com líder petista, o governador da Paraíba prometeu trabalhar para retomar a parceria entre os dois partidos.
DISPUTA NA FAMÍLIA CAMPOS
A síntese da divisão do PSB pode ser vista em Pernambuco e até na própria família Campos. Na eleição do ano que vem, três parentes do ex-governador devem concorrer por partidos diferentes. Atual chefe de gabinete do governador Paulo Câmara (PSB), João Campos, filho de Eduardo, se articula para disputar uma vaga de deputado federal. Ele deve ter como um dos adversários o tio, Antonio Campos, que, depois de ser derrotado no ano passado na eleição para a prefeitura de Olinda, se filiou ao Podemos.
— Saí do PSB porque fui traído pelo direção estadual, que tem um projeto de poder e não de compromisso com a sociedade – afirmou Antonio Campos, que se desentendeu com o governador Paulo Câmara.
Antes da disputa eleitoral do ano passado, uma outra integrante da família, Marília Campos, prima de Eduardo Campos e neta de Miguel Arraes, já havia deixado do PSB. Pelo PT, foi reeleita vereadora em Recife e tenta se cacifar para disputar o governo do estado.
— O partido mudou de lado, se descaracterizou ideologicamente. Pelos posicionamentos e pelas alianças. Apoiou ou liberou a bancada em pautas que historicamente sempre defendeu. É uma traição à história de Arraes, que dedicou os últimos anos da vida dele a construir o partido - afirmou Marília Arraes, que em 2014 já havia manifestado oposição à candidatura de Eduardo Campos a presidente.
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