Por Marina Falcão | Valor Econômico
RECIFE - O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), deve enfrentar um duro cenário pela reeleição no ano que vem. Com a popularidade em baixa, Câmara assiste ao afastamento de antigos aliados do PSDB e do DEM, dos ministros Bruno Araújo (Cidades) e Mendonça Filho (Educação), e da ala do PSB liderada pelo também ministro Fernando Filho (Minas e Energia) e seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho. Um eventual apoio de Lula, que traria fôlego ao governador nas urnas, é descartada pelo PT no Estado.
Uma pesquisa do Instituto Uninassau, em abril, mostrou Câmara com apenas 6% das intenções de voto, atrás do senador Armando Monteiro (PTB), com 22%, e de Mendonça Filho (DEM), com 12%. Bruno Araújo (PSDB) apareceu em quarto, com 2%.
O levantamento, embora ainda distante da eleição, revela o desgaste da imagem da gestão de Câmara, prejudicada pelo recrudescimento da violência em Pernambuco. O primeiro semestre deste ano, com 2.876 homicídios no Estado, foi o mais violento desde a criação do Programa Pacto pela Vida pelo ex-governador Eduardo Campos, dez anos atrás.
Derrotado por Câmara na última eleição, o senador Armando Monteiro tenta reunir forças da oposição (PT) ou dos dissidentes (DEM e PSDB) para construir sua candidatura. "Estou dialogando com todos, sem preconceito, sem exclusão", afirmou ao Valor. "Nenhuma porta está fechada para ninguém e isso é positivo, pois o cenário nacional é mutante", diz. "A única coisa certa no momento é o desgaste do modelo do PSB, que já perdura por 12 anos".
Sem PSDB e DEM, partidos que estiveram aliados ao PSB nas últimas eleições estaduais, Câmara tenta evitar agora a oficialização da divisão do próprio partido em Pernambuco: a saída dos Coelho, que avaliam uma migração para o DEM a convite do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Maia tem vindo com frequência a Pernambuco se encontrar com o senador e passar os fins de semana nas casas de campo e praia do correligionário Mendonça Filho. Na pauta, o cenário pós-Temer, o fortalecimento do DEM e as eleições no Estado. Na sexta-feira, Maia esteve em Petrolina, reduto eleitoral dos Coelho, para prestigiar o casamento do prefeito Miguel Coelho (PSB), irmão do ministro Fernando Filho.
Câmara foge do assunto eleições. Oficialmente, seus aliados adotaram um discurso de minimizar as diferenças com os Coelho. Nos bastidores, comenta-se que o governador não tem poupado esforços para agradar o clã, chegando a enviar recursos para bancar os festejos juninos em Petrolina.
Pessebista próximo ao governador diz que uma candidatura do senador Fernando Bezerra Coelho seria ruim, mas pior seria uma candidatura do seu filho ministro, um nome mais leve, que agrada o setor empresarial e não está envolvido na Lava-Jato.
A saída dos Coelho do PSB ainda está em aberto porque depende do desfecho das eleições para o comando do partido. Se o vice-governador de São Paulo, Márcio França, conseguir assumir a legenda, como desejam os Coelho, haveria espaço para a permanência. Caso o atual presidente Carlos Siqueira se reeleja, o desembarque do clã é dado como certo.
Diante desse horizonte hostil, o PSB está deixando as portas abertas para uma aliança com o PT, com o apoio da família Campos. "Com Lula na disputa nacional, não tem clima para pedir voto contra ele em Pernambuco. Foi muito difícil pedir voto para Aécio, um fracasso", diz um pessebista que deve se candidatar a deputado federal em 2018.
O PSB rompeu com o PT quando Eduardo Campos se lançou candidato enfrentando a ex-presidente Dilma Rousseff em 2014. No segundo turno, o PSB apoiou Aécio Neves (PSDB) e, em seguida, o impeachment de Dilma.
Para o PT local, especialmente a ala ligada ao senador Humberto Costa, o recente desembarque majoritário do PSB do governo Temer não apaga as mágoas do passado. "Somos oposição ao PSB, o partido é um dos responsáveis pela ruptura democrática", afirma Bruno Ribeiro, presidente do partido em Pernambuco.
Para Ribeiro, ainda que Lula possa ter a ambição de formar um bloco de esquerda nacional com o PSB para 2018, a aliança não seria verticalizada para Pernambuco. Em entrevista recente a um jornal da Paraíba, o ex-presidente declarou que "Paulo Câmara é resultado daquilo que eu não acredito. Ninguém governa porque é técnico. Um técnico você contrata", quando questionado sobre eventual aliança com o PSB em Pernambuco.
Se, pelo menos por ora, as portas do PT estão fechadas para o PSB, o mesmo não se pode dizer em relação a Armando Monteiro, que cogita abertamente aliança com PSDB e o DEM. O recente voto do senador petebista a favor da reforma trabalhista, fato que cria desconforto na base petista, não inviabilizaria uma repetição da aliança PTB/PT no Estado. "Não cabe dizer que há um estresse com Armando, sempre soubemos que havia diferenças. Uma aliança é feita por diferentes", diz Ribeiro, ressaltando que Monteiro ficou ao lado de Dilma até o fim.
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