- Folha de S. Paulo
O recesso parlamentar costuma ser um período pacato e escasso em termos de notícias políticas e econômicas. Mesmo assim, o governo de Michel Temer conseguiu a proeza de gerar uma agenda negativa para o presidente com o aumento de imposto sobre os combustíveis.
Era o que Temer menos precisava agora. Logo depois do anúncio da medida, ele declarou, em viagem a Mendoza, que a população "irá compreender" a decisão. Veio com o blá-blá-blá de que ela será fundamental para cumprir a meta fiscal.
Temer deveria ter a coragem de admitir que a crise política em que o governo se meteu tem grande parcela de culpa na redução de receita e no consequente reajuste de tributo.
Conforme mostrou aFolha no sábado (22), são R$ 6,1 bilhões a menos com a desconfiguração do novo Refis, o fiasco do programa de desoneração da folha de pagamento, entre outras coisas que dependem do Congresso. Sem falar da reforma da Previdência, que empacou após o escândalo das revelações da JBS. Sua aprovação na Câmara estava prevista para junho –logo depois, seguiria para o Senado. Se o cronograma tivesse sido mantido, certamente seria outra a expectativa de rombo nas contas públicas e a de aumento de imposto no curto prazo.
Hoje é remota a chance de a denúncia da PGR contra Temer receber os 342 votos necessários dos deputados para autorizar o STF a decidir se o transforma ou não em réu. E pequena é a possibilidade de haver quórum para a votação no dia 2 de agosto. São sinais que poderiam ser celebrados no Planalto, se eles não fossem, de certo modo, perigosos.
O país perde com o discurso do governo de que cabe à oposição colocar o número suficiente de votantes em plenário e de que não há problemas em protelar a votação. Perde porque o Congresso vai parar à espera de uma solução –ademais, em breve teremos mais uma denúncia da PGR. A economia não tem fôlego para ficar refém dessa incerteza.
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