segunda-feira, 24 de julho de 2017

Lição da realidade – Editorial | O Globo

Estudar a economia dos últimos 14 anos é básico para se saber o rumo que o país tem de seguir

Usada em incontáveis tentativas de terapias contra inflação e recessão, a economia brasileira tem servido de laboratório para vários experimentos. O mais bem-sucedido, o Plano Real, cortou a trajetória rumo ao infinito da inércia inflacionária — pela qual, a inflação sobe hoje porque subiu ontem —, fez uma troca de moeda engenhosa e ainda pôde corrigir o erro de uma âncora cambial rígida, sem colocar tudo a perder. Foi o que aconteceu em 1999, no início do segundo mandato de FH, quando se liberou o câmbio e estabeleceu-se a política do tripé — câmbio oscilante, gastos sob controle e metas de inflação.

Tanto deu certo que tem permitido a reconstrução da economia, nesses mesmo moldes — depois da catástrofe lulopetista de uma recessão na faixa de 8%, desemprego de 14 milhões de pessoas e inflação mais uma vez em dois dígitos —, embora ainda falte a sinalização de uma saída para a crise política, a fim de haver um horizonte claro para investidores e consumidores.

Conhecer a história econômica dos últimos 14 anos é essencial para que não se repitam erros — embora haja correntes no Brasil que nunca esquecem e nada aprendem. Ilustrativo que este capítulo da crônica econômica comece com a sensata manutenção por Lula, em seu primeiro mandato, em 2003, do conceito do tripé. O dólar disparara na campanha de 2002, puxado pela expectativa pessimista dos mercados diante da perspectiva de vitória de Lula, e desfechara forte choque inflacionário. O índice chegaria aos dois dígitos. O bom senso, naquele momento, de Lula permitiu que, com Antonio Palloci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, terapias ortodoxas, infalíveis, fossem aplicadas: juros altos, aperto das despesas. Assim, a inflação cedeu, a economia voltou a girar e pôde se beneficiar de um histórico movimento de expansão sincronizada das maiores economias do mundo, turbinada pela China e seu “socialismo de mercado”.

Reeleito, Lula, porém, iria, no segundo mandato, ressuscitar os dogmas da velha visão petista sobre economia, com o condimento brizolista de Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, abrigada no Rio Grande do Sul, no PDT fundado pelo caudilho.

O preço social, humano e no rompimento de estruturas produtivas foi alto demais, injustificável. Mas da aplicação do “novo marco macroeconômico”, derivado dos dogmas “desenvolvimentistas” de Dilma e PT, restou a lição do erro fatal que é intervir com a mão pesada do Estado em “preços” fundamentais como juros e câmbio que, se manipulados de forma voluntariosa, produzem efeitos colaterais ruinosos. Como vistos em 2015.

Restaurar a credibilidade do Banco Central, baixar os juros à medida que passe a haver coerência entre políticas fiscal e monetária, para que se voltem ao mesmo objetivo da redução da inflação, é receita simples, mas que lentes embaçadas de ideologia não veem.

Os resultados estão à mostra: inflação em queda vertiginosa (está hoje em 3%, voltará a subir, mas não muito). PIB em lenta recuperação. Apenas à espera de uma definição no cenário político. Deve-se aprender com a lição prática

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