- Folha de S. Paulo
Os manifestantes que protestaram em 2015 e 2016 ao lado dos patos inflados na avenida Paulista tinham um encontro marcado com a frustração.
Os impostos, cedo ou tarde, teriam de ser elevados diante da equação política que fechava as portas para correções ao mesmo tempo substanciais e tempestivas no grosso das despesas orçamentárias.
Demorou, mas aconteceu. A necessidade de fechar as contas de 2017, de assegurar que o buraco depois de quitados os compromissos não financeiros da União fique "apenas" em R$ 139 bilhões, levou o Planalto a autorizar uma pequena derrama no mercado de combustíveis.
De cada R$ 100 que o governo deu com uma mão às famílias brasileiras, ao autorizar o saque das contas inativas do FGTS, pretende agora subtrair R$ 25 com a outra, por meio do arrocho no posto de gasolina. Como se comportará o consumo diante de estímulos contraditórios?
Há sinais de que a economia brasileira possa ter perdido marcadores da previsibilidade com que operou ao longo dos últimos 20 anos. Nesse período, aumento de tributos levava, quase como um relógio suíço, ao cumprimento, muitas vezes com folga, dos objetivos de engorda fiscal.
Naquele tempo, taxar combustíveis de baciada, como foi feito agora, também era caminho certeiro para atiçar a inflação, o que recomendava, como antídoto, a subida dos juros pelo Banco Central.
As coisas parecem mais duvidosas agora. O choque tributário nos combustíveis talvez não retire os índices de inflação da surpreendente rota de desaceleração.
O mercado está perto de financiar o Tesouro até 2024 aceitando juro real abaixo de 5% ao ano, o que não se vê há um bom tempo. A questão é se, nesse ambiente esquisito para nossos padrões, elevar imposto dará à União a receita estimada ou se, ao contrário, o efeito depressivo sobre a atividade será mais forte.
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