Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Com a projeção nacional do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o esforço de filiações, o DEM, antes ameaçado de extinção, está empolgado. Vê uma brecha para sair da sombra do PSDB e se firmar como o partido programático de centro-direita no Brasil. As negociações em curso já acertaram a chegada de um novo deputado, do Acre, dentro da meta de elevar a bancada federal a, pelo menos, 40 parlamentares.
O DEM que quer ser o PT do campo liberal vai reformular seu estatuto e planeja voltar a ocupar governos estaduais. Três são as apostas principais para 2018: Rodrigo Maia, no Rio; o prefeito de Salvador ACM Neto, na Bahia, atualmente as duas seções mais expressivas do partido, e o senador Ronaldo Caiado, em Goiás. Um dos três, afirma o líder da bancada federal, Efraim Filho (PB), pode eventualmente ascender à disputa nacional. "O DEM tem condição de ocupar esse espaço. O PSDB ainda passa por dúvidas, não há candidatura posta, vive divisões internas", diz.
Outros nomes cotados, mas especificamente para o plano estadual, são os do ministro Mendonça Filho, em Pernambuco, do deputado federal Onyx Lorenzoni, no Rio Grande do Sul, e do senador Davi Alcolumbre, pré-candidato a governador no Amapá.
No curto prazo, o DEM enxerga possibilidade de alcançar a presidência da República, caso Michel Temer seja afastado e Rodrigo Maia o substitua. Mas o conflito aberto com o PMDB, aliado sempre cobiçado pelos partidos com pretensões majoritárias, é evitado. O plano "imediato para Maia é disputar o governo estadual", afirma. "Acima disso não seria o caminho natural das coisas. Agora, para qualquer missão constitucional que venha a assumir, ele já mostrou capacidade durante o mandato de presidente da Câmara", diz o parlamentar.
O objetivo não é desalojar o PMDB da Presidência, de modo açodado, mas no médio e longo prazo a estratégia do DEM é sair da órbita do PSDB. Com o desenrolar da crise política, a legenda deixou o papel de coadjuvante dos tucanos. Para isso, uma decisão importante foi escapar à polarização reinante entre PT e PSDB. A conquista da presidência da Câmara por Rodrigo Maia, lembra Efraim Filho, ocorreu graças ao perfil moderado do deputado. "A grande característica dele foi a capacidade de diálogo, inclusive com a esquerda, o que o PSDB não consegue construir. Teve apoio do PCdoB, do PDT e até de parte do PT", diz.
Ainda que à direita dos tucanos, o DEM busca manobrar em meio aos polos tradicionais. Como virou moda, mira no exemplo da França, onde o movimento En Marche! arrancou pelo centro, desbancou os dois principais partidos - o Socialista e o Republicano - e elegeu Emmanuel Macron. "O Macron não era o candidato que tinha a maior estrutura partidária, mas tinha conceitos e ideias", afirma o líder da bancada, para quem o movimento de ascensão do "novo" Democratas - expressão com a qual se refere ao partido - não se resume a aumentar de tamanho.
A legenda, conta, vai revisar seu programa de 2007 - quando o partido deixou de se chamar PFL - para incluir temas caros à classe média. Serão três eixos. Na economia, a defesa da reforma tributária, da desburocratização e do empreendedorismo das pequenas e médias empresas. Na segurança, pedirá a revisão do Estatuto do Desarmamento, em "defesa da família e não do criminoso", como seriam as políticas do PT. Na educação, pasta ocupada pelo ministro Mendonça Filho, defenderá um novo ensino médio, "com mais conhecimento e menos ideologia". "Ficarei responsável por essa mudança do programa", diz.
Mas tamanho também importa. E enquanto as atenções estão voltadas para a disputa com o PMDB pela filiação dos 14 dissidentes do PSB - que votaram a favor da reforma trabalhista - o DEM já acertou a chegada de um novo deputado. Trata-se de Alan Rick, egresso do PRB do Acre. É o 31º deputado titular da sigla (incluindo os licenciados) - o que representa um aumento de 43% em relação aos 21 eleitos. A bancada saída das urnas em 2014 é o fundo do poço na trajetória da agremiação que elegeu 105 parlamentares, em 1998, a maior daquela legislatura.
Caso chegue aos 40 deputados pretendidos, o DEM pulará da oitava para a quinta posição, atrás de PMDB, PT, PP e PSDB. A inflexão vem depois do fim da era PT, período em que a legenda perdeu votos e filiados, que migraram para partidos da base governista. O maior baque foi o racha que levou à fundação do PSD, pelo então prefeito, hoje ministro, Gilberto Kassab, em 2011. Até uma fusão com o PSDB era cogitada. "Foi o momento mais difícil. Mas o processo foi um filtro, deu mais coesão, unidade. Estamos colhendo os frutos da nossa coerência, depois de 14 anos de oposição ao PT, sem ficar em cima do muro e sem adesão ao fisiologismo", diz Efraim Filho.
A guinada é favorecida pela expectativa de poder - que o líder partidário chama de "viés de alta" - em torno de Rodrigo Maia. Sobre o assédio de Temer aos dissidentes do PSB, o parlamentar afirma que "o princípio de crise" no episódio foi debelado na medida em que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) reconheceu que o movimento do presidente foi "intempestivo, indevido e atemporal". "O governo deveria estar mais preocupado em construir pontes do que muros para preservar apoios", critica. A expectativa é que de seis a dez dissidentes do PSB migrem para o DEM. A sigla negocia com deputados de outros partidos para alcançar a bancada de 40. "Estamos na vanguarda e temos sido procurados como um porto seguro para 2018", diz.
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