Boa notícia principalmente para as famílias, o bom comportamento dos preços continua sustentando as apostas em juros menores neste ano e no próximo, apesar da incerteza gerada pela crise política. Muito mais incomum que a neve, a deflação tem sido mostrada de forma inequívoca no varejo e até em serviços. Em junho, o principal indicador oficial de inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,23% em relação ao nível do mês anterior. A tendência foi confirmada com a divulgação do IPCA-15, uma prévia do resultado mensal. O número de julho foi 0,18% menor que o de junho, graças, principalmente, à redução de 0,55% dos custos de alimentação e bebidas e de 0,64% nos de transportes. Os dois grupos têm um peso de 43% no orçamento familiar tomado como referência. Os novos dados confirmam a inflação bem abaixo da meta anual de 4,5%. Em junho, o IPCA acumulado em 12 meses chegou a 3%. Em julho, o IPCA-15 atingiu 2,78%. O último número menor que esse ocorreu em março de 1999, quando a alta de preços acumulada em 12 meses ficou em 2,64%.
Inflação abaixo de 4,5% e mesmo de 4% já está no radar dos analistas do mercado há um bom tempo. Segundo a última pesquisa Focus, conduzida semanalmente pelo Banco Central (BC) com cerca de 100 instituições financeiras e consultorias, a mediana das projeções passou a apontar uma alta do IPCA de 3,29% neste ano. Essas estimativas estão em queda, desta vez, há sete semanas. Há um mês o número indicado foi 3,64%.
Na mesma pesquisa, os técnicos do mercado projetaram taxas de 4,20% para o próximo ano e 4,25% para o seguinte. O número calculado para 2018 está um pouco abaixo do alvo de 4,5%. O apontado para 2019 coincide exatamente com a nova meta fixada pelo governo.
Não há razão, segundo os analistas do mercado, para esperar um repique significativo dos preços nesse período. Mesmo com alguma aceleração, o crescimento econômico permanecerá muito lento dentro do horizonte de análise: 0,34% neste ano, 2% no próximo e 2,5% em 2019 – e algumas instituições, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), projetam números menores. Há espaço, portanto, na avaliação do mercado, para uma queda mais veloz da taxa básica de juros, atualmente de 10,25%. Pelas novas estimativas, a Selic estará em 8% em dezembro de 2017 e também no fim de 2018 e em 8,13% no encerramento de 2019. Uma semana antes a projeção para este ano ainda estava em 8,25%.
Mas há previsões mais audaciosas, sustentadas por alguns dos especialistas com melhor desempenho nesse campo. Em uma semana os integrantes do chamado Top 5, autores das projeções mais acuradas, baixaram de 8% para 7,75% a taxa básica estimada para o fim deste ano. Não há risco, insistem alguns dos apostadores em taxas abaixo de 8%, porque as perspectivas econômicas indicam pressões inflacionárias contidas ainda por um longo tempo. Se a crise política prejudicar a lenta recuperação iniciada nos primeiros meses deste ano, a persistência da baixa atividade e do consumo retraído tornará ainda mais improvável uma aceleração da alta de preços.
Essa argumentação é respeitável, mas também se pode apontar outro cenário. Se a crise política se prolongar e prejudicar seriamente a pauta de ajustes e de reformas, investimentos serão suspensos, capitais externos poderão evaporar-se e uma depreciação cambial exacerbada poderá pressionar perigosamente os preços. A incerteza, além disso, poderá afetar as condições de oferta e de comercialização de bens, favorecendo o desajuste de preços. Não há nada absurdo nesta hipótese.
Por enquanto, parece haver de fato condições para novos cortes de juros, na faixa de 0,75 a 1 ponto de porcentagem. Mas a avaliação de riscos é complexa, até porque o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se permite manter suspense quanto à possibilidade de novas denúncias contra o presidente da República. Não haverá surpresa se os dirigentes do BC incluírem o fator Janot na avaliação de riscos, quando se reunirem, nos dias 25 e 26, para a nova decisão sobre a política de juros.
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