Por Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ontem que poderá apoiar o ex-prefeito Fernando Haddad para disputar a Presidência da República caso sua candidatura seja inviabilizada pela Justiça. As declaração foi dada no mesmo dia em que o PT e movimentos sociais promoveram uma manifestação em diversas capitais do país em defesa de Lula, condenado em primeira instância na semana passada por corrupção e lavagem.
Em longa entrevista aos jornalistas Juca Kfouri, José Trajano e Antero Greco, Lula disse que quer voltar à Presidência para fazer o país voltar a crescer e indicou que ele é o candidato petista com mais viabilidade eleitoral. Caso sua candidatura seja inviabilizada, o ex-presidente lembrou duas vezes do nome de Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, derrotado no primeiro turno em 2016 na disputa pela reeleição.
Lula afirmou que seu afilhado político é uma personalidade importante e que pediu a ele que "ponha o pé na estrada" para falar sobre as realizações dos governos do PT na área de educação. Além disso, ressaltou também os governadores do partido, mas não citou nominalmente todos -- Tião Viana (AC), Rui Costa (BA), Camilo Santana (CE), Wellington Dias (PI) e Fernando Pimentel (MG). Tampouco falou de possíveis candidatos de outros partidos como alternativa.
Ao tratar do cenário para 2018, disse não acreditar na candidatura presidencial do deputado Jair Bolsonaro (RJ) e afirmou que o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), precisa primeiro comandar a cidade e ter ações para apresentar antes de disputar o Planalto no ano que vem.
Ao falar sobre o também presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, o petista ironizou e disse que o tucano parece que "mamou até os 14 anos" e "empinou pipa em casa, em frente ao ventilador". Lula lembrou da campanha à reeleição de 2006 contra Alckmin e disse que o tucano não o respeitou quando partiu para o ataque à sua gestão.
O ex-presidente ainda reconheceu que o PT errou ao envolver-se em esquemas de corrupção, uma vez que "nasceu para mudar o jeito de fazer política". No entanto, minimizou os problemas ao dizer que o partido "não fez nada de diferente da política nacional".
À noite, para uma plateia com centenas de militantes e simpatizantes do PT e de movimentos populares, Lula afirmou que seus adversários querem derrotá-lo pela via judicial, por não conseguirem vencê-lo nas urnas. O petista desafiou a força-tarefa da Operação Lava-Jato a apresentar provas concretas contra ele e disse que se encontrarem irregularidades, poderão prendê-lo.
O ex-presidente discursou por meia hora em uma ato organizado pelo PT e movimentos sociais e sindicais em solidariedade a ele, na avenida Paulista. Em cima de um carro de som, negou ter cometido irregularidades apontadas pelo juiz Sergio Moro, que o condenou em primeira instância. "Como não conseguem me derrubar na política, eles querem me derrotar com processo. É todo dia um processo, um depoimento, um inquérito", afirmou.
Lula também reclamou da atuação da força-tarefa da Lava-Jato e descartou a existência de provas contra ele. "Gostaria que se o Moro, o Ministério Público e a Polícia Federal da Lava-Jato tiverem uma denúncia, uma prova que o Lula recebeu cinco centavos, por favor, me desmoralizem, façam processo e me prendam se eu tiver alguma coisa ilegal na minha vida".
O petista citou as denúncias contra o PSDB e disse que enquanto ele e o PT sofreram "500 tiros" e sobreviveram, "um tiro matou a revoada de tucanos". Em sua avaliação, a "elite" não o suporta porque ele beneficiou os mais pobres em seu governo. "Não sei se tenho muito casco, mas querem atirar, atire. Querem bater, bata. Não tem problema. Eu não tenho eles [elite], mas tenho o povo trabalhador".
Em um aceno aos manifestantes, afirmou que, se eleito, deverá modificar os projetos aprovados no governo Michel Temer. "Eles sabem que se um dia vocês elegerem um companheiro comprometido com o povo vai ter que desmontar a desgraceira [que Temer] fez com o país", disse.
Os manifestantes ocuparam toda a quadra onde está localizado o Masp. Não foram divulgadas estimativas de público nem pelos organizadores nem pela Polícia Militar. Ao sair do carro de som, Lula foi cercado por uma multidão de populares que queriam cumprimentá-lo e tirar fotos. Entre os gritos eufóricos estavam "meu líder", "volta, Lula" e "Lula, presidente".
No ato, cujo mote é "Eleição sem Lula é fraude", lideranças do PT criticaram Moro, pediram a saída de Temer da Presidência e defenderam a candidatura presidencial do petista. O líder do MTST, Guilherme Boulos, disse que é "inadimissível a postura do Judiciário". "Essa condenação tem o propósito de resolver a eleição no tapetão".
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