- Valor Econômico
Para elite paulista, trabalhar contra Temer é um erro
No jogo eleitoral de 2018, caberá ao PSDB dar o primeiro lance. Como a disputa pela candidatura ficou entre João Doria e Geraldo Alckmin um dos dois, ou ambos, terão que sair dos seus cargos executivos em São Paulo até a primeira semana de abril do próximo ano, para disputar a Presidência ou o Palácio dos Bandeirantes, no caso de Doria. O balé entre os dois, em que as ambições colidem, mas a ruptura é impossível, acaba em oito meses. Antes portanto, de se saber se Luiz Inácio Lula da Silva estará habilitado para disputar a eleição e certamente em situação desvantajosa nas pesquisas.
Como Lula no começo de abril ainda estará no páreo, Doria e Alckmin terão ultrapassado o ponto de retorno, em situação de voo cego. Podem enfrentar a campanha em um cenário polarizado, contra um Lula condenado e totalmente bolivariano em um extremo e um candidato de espectro claramente direitista no outro. Ou podem entrar em cena em um quadro pulverizado, com quatro ou cinco candidatos em situação competitiva às vésperas do primeiro turno.
Quando Alckmin e/ou Doria se desincompatibilizarem, é razoável supor que já estarão definidas as posições de cada um na chapa tucana, independente da modalidade que o PSDB escolha para tomar sua decisão. Um rearranjo da chapa em agosto, data-limite para se saber se a candidatura de Lula será ou não registrada, é possível, mas pouco provável. Doria pode ter a candidatura ao governo paulista como plano B. Alckmin teria que se conformar com uma cadeira no Senado.
O governador começou a fazer política quando Doria tinha 15 anos incompletos. Sabe que quem senta na cadeira de espaldar mais alto no Morumbi jamais foi superado em uma disputa partidária interna. Antagoniza Tasso Jereissati em relação ao destino do governo Temer, mas apoia o senador cearense para permanecer à frente do PSDB. Se Tasso se inviabilizar à frente da sigla, cresce a cotação do governador goiano, Marconi Perillo, outro alckmista. Seu mais tradicional adversário interno, José Serra, está em baixa e é muito, muito distante de Doria.
Alckmin costura por dentro, Doria por fora. O prefeito procura lastro na opinião pública, e não no partido. Tenta captar o sentimento do eleitorado que mais pode lhe dar dividendos e literalmente encarna o personagem. Ele não precisa apenas mais que dobrar a intenção de votos na pesquisas em relação a Alckmin, como acontece agora. Necessita também suplantar Marina Silva e Jair Bolsonaro e se destacar de flores exóticas como Joaquim Barbosa, o que ainda não fez.
Se a boca do jacaré abrir nas pesquisas, com Doria disparando e Alckmin caindo, adeus às ilusões, conforme admitiram dois interlocutores diretos do governador. O prefeito corre contra o relógio, porque as pesquisas ainda não o credenciam. O governador não tem pressa alguma e daí a inexistência de enfrentamentos seus mais contundentes com Lula, Ciro Gomes, Fernando Henrique, Aécio Neves e a imprensa, para citar alguns alvos de polêmica com o prefeito.
Alckmin procura estar em sintonia com a preocupação primordial do coração do empresariado e do sistema financeiro, que é a estruturação de um modelo econômico consistente do ponto de vista fiscal e favorável à livre-iniciativa. A história das finanças públicas na longa gestão tucana em São Paulo lhe abre portas nos ambientes mais exclusivos da elite econômica.
Estes agentes não acreditam que a queda de Michel Temer favoreça a aprovação da reforma da Previdência e de mudanças na legislação tributária. Não apostam que Rodrigo Maia permaneça imune à instabilidade.
A última fortaleza de Temer não é a turma do Centrão em Brasília. Esta não tem princípios, que o diga Eduardo Cunha, que teve 450 votos favoráveis à sua cassação no plenário da Câmara. A cidadela do presidente está nas torres altas da Berrini, da Marginal de Pinheiros e dos lugares mais aprazíveis da região de Santo Amaro. Nestes ambientes, Temer ainda é visto como o instrumento para se atingir determinados fins. Ou a tal "ponte para o futuro" que o presidente procurou encarnar. A tese da pinguela que caiu, propagandeada pelo ex-presidente Fernando Henrique, não empolgou nestes círculos.
Alckmin recebeu pressões para largar a mão de Temer e empurrar o governo federal para o abismo, mas também foi pressionado, e de maneira eloquente, a manter o compromisso com as prioridades que estavam sobre a mesa antes do 17 de maio. A cidadela de Temer hoje é um esteio do qual Alckmin nunca poderá abrir mão, se quiser chegar lá.
A predileção pelo governador paulista nos centros de decisões empresariais não significa um obstáculo intransponível para Doria. O voluntarismo e a compulsão em jogar para a plateia que o prefeito exerce os assusta um pouco. O discurso de que está na hora de um gestor é recebido com imenso tédio no coração do empresariado, em que existe a perfeita noção de que política é conciliação e composição, que gestão de negócios se rege por outros parâmetros e que um empresário, em geral, não dá um bom político.
Os agentes econômicos, entretanto, seguem o princípio basilar de Deng Xiaoping, reformador do comunismo chinês: "não importa a cor do gato, desde que ele mate os ratos".
Doria pode ser a opção preferencial no caso de extrema turbulência, hipótese que não pode ser desprezada quando se olha o horizonte de 2018. Ele se fragiliza caso Lula desapareça do quadro de candidatos, já que o antipetismo é seu "leitmotiv". Mas o contexto de uma campanha sem o petista no próximo ano é desconhecido. Na aposta do empresariado, com alguma reforma aprovada o ambiente econômico melhora, diminui a descrença e a radicalização e um moderado ganha mais espaço. Pode ser a hora de um político que ganhou credenciais como gestor, como é o caso de Alckmin. Se o cenário do próximo ano for diluviano, abre-se o caminho para a aposta em um comunicador.
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