- O Globo
O desemprego é a face mais dolorosa da recessão que o Brasil atravessa, e seu peso é maior para jovens, negros e mulheres, o que aprofunda desigualdades. Além disso, é um problema que permanecerá presente, mesmo após a retomada do crescimento. É preciso uma aguda preocupação com o tema, porque há uma geração com seu destino ameaçado pela falta de emprego.
Não é só no Brasil. Mas aqui há uma crise conjuntural que elevou a dramaticidade dos números. O Brasil tem quase 14 milhões de desempregados, e desses, como mostrou o especial multimídia do GLOBO, ontem, 30% são jovens.
Na União Europeia, enquanto o desemprego médio é de 7,8%, entre jovens, é mais do que o dobro, 16,7%. Na Espanha, o percentual de desempregados abaixo de 25 anos chega a 39,3%. Na Itália, 34%, em Portugal, 23,7%. Na Grécia, onde a crise ainda é intensa, o número sobe para 47,9%. Na Alemanha, o desemprego total é de 3,8% e entre os jovens sobe para 6,8%.
A Alemanha é o país da Europa que tem os melhores indicadores nesta área, e isso em grande parte é creditado às reformas que o país fez anos atrás na sua legislação trabalhista, para torná-la mais flexível. O mundo do emprego exige mudanças que estimulem a criação de vagas de trabalho e neste campo há um longo dever de casa que o Brasil precisa fazer. A chamada reforma trabalhista apenas arranha o problema.
No mundo inteiro especialistas se debruçam sobre a crise do emprego para identificar áreas mais dinâmicas, mudanças na organização do trabalho, tipos de qualificação que devem ter os jovens para a entrada no mercado. Com a profundidade das transformações na forma de produção, não há respostas fáceis. Entre os setores mais promissores de criação de emprego, segundo a Eurostat, está a área ambiental, que vai desde a produção de energia de baixo impacto, até as reformas necessárias nas construções para adaptá-las ao novo conceito de sustentabilidade.
De acordo com um estudo do Organização Internacional do Trabalho, 40% da força de trabalho global está desempregada ou em desalento, ou seja, nem procura emprego. A conclusão do estudo é que o crescimento do PIB não é fator suficiente para a criação de vagas, porque as novas tecnologias de produção reduzem muito a oferta de novos postos de trabalho.
O Brasil viu recentemente, no pico do crescimento em 2010, que o tema mais falado era o apagão de mão de obra. Naquele ano, a falta de oferta de trabalhadores qualificados foi um ponto de estrangulamento. E isso indica a necessidade urgente de preparar os jovens para as novas demandas do mercado de trabalho.
Um jovem brasileiro, hoje, em geral estudou mais do que seus pais e enfrenta a decepção de ter dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Se permanecer muito tempo nesta exclusão, ele terá barreiras à entrada em um emprego de qualidade por falta de currículo. Não consegue fazer currículo porque não tem emprego no início da vida profissional, depois é tarde demais para ser contratado para um emprego de iniciante.
Além do desemprego há também a queda dos postos com carteira de trabalho. Foram 500 mil a menos no trimestre terminado em maio, comparado ao trimestre anterior, terminado em fevereiro. Isso mostra que, apesar de o próprio IBGE ter considerado que o 13,3% de taxa de desemprego significa estabilização do problema, já que o último número foi de 13,2%, o mercado de trabalho continua se deteriorando como mostra o avanço dos sem-carteira.
O crescimento pode melhorar os diversos dilemas do mercado de trabalho no Brasil, mas não vão resolver. É preciso pensar em estratégias para aumentar as possibilidades dos jovens encontrarem espaço na economia, seja como empregados, seja como empreendedores, seja em qualquer uma das novas formas de inserção na economia.
Os números são dramáticos. O país que no fim de 2014 tinha 6,4 milhões de desempregados tem quase 14 milhões atualmente. O combate ao desemprego tem que ser uma pauta permanente do país, incluindo órgãos, pessoas e instituições de áreas diversas. As soluções convencionais não servem mais para o mundo de hoje. E as mudanças não vão parar de acontecer. No mundo todo, há uma crise de criação de vagas, principalmente para os mais jovens É preciso preocupação constante, as soluções convencionais não servem para o mundo de hoje
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