- O Estado de S.Paulo
Greve geral que não ocupa a Esplanada dos Ministérios não é greve geral
Qualquer análise que se faça sobre a greve geral convocada para ontem por centrais sindicais e movimentos sociais contra o governo de Michel Temer e suas reformas nos leva a concluir que o fracasso foi retumbante. Uma greve geral contra o governo que não se propõe a ocupar a Esplanada dos Ministérios, como a de ontem, não pode ser considerada uma greve geral. Nem para registro histórico serve.
Os organizadores tiveram medo de que só aparecessem uns milhares de gatos pingados, como na greve do dia 28 de abril, que nas contas deles registrou 10 mil na Esplanada, mas na da Polícia Militar, 3 mil. Dez mil ou 50 mil na imensidão do espaço de cerrado que fica entre os ministérios é o mesmo que nada.
Pode-se dizer que no País houve bloqueio de ruas e rodovias e paralisação de categorias inteiras, principalmente de servidores públicos. Tudo bem. Mas não configura uma greve geral. Até porque em São Paulo metrô, trem e ônibus circularam como em um dia comum. Greve geral sem paralisação do transporte de massas não pode receber esse nome em nenhum país do mundo.
O pífio resultado da greve geral deveria servir de alerta para as centrais, sindicatos e movimentos sociais que convocaram a manifestação. Não é só a crise política que tortura o País há tempos. A falta de rumo dos velhos líderes sindicais, seus métodos ultrapassados, tudo começa a ser rejeitado pela parte da sociedade que não é militante partidária ou ligada a alguma entidade. Pneus queimados a bloquear as vias mais irritam do que agregam.
Hoje, em vez de ir para as ruas, o cidadão optou por ficar em casa. O seu protesto é o silêncio. Não se anima mais nem em bater panelas para dizer que é contra alguma coisa. De um modo geral, todo mundo encheu o saco. E nesse saco estão o governo, o Congresso, os partidos políticos, as idas e vindas do STF, o TSE e a cassação da chapa Dilma-Temer, o trânsito, o desemprego, os serviços públicos, a Friboi e seus produtos, e até o Jornal Nacional da TV Globo e seus extensos blocos com intermináveis repetições da conversa entre Joesley Batista e o presidente Michel Temer.
Em outras palavras, o cidadão brasileiro está se cansando de tudo. E, pelo que as pesquisas de prospecção de votos começam a apurar, ele quer mudar. A última sondagem da Ipsos, feita entre os dias 1.º e 13 de junho, registrou índice de rejeição de 93% para o presidente Temer, vencedor absoluto de impopularidade em uma disputa que apresentou, em segundo lugar, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, com 92%. Aécio Neves, Renan Calheiros, Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, todo mundo ficou lá nas grimpas da impopularidade. O ex-presidente Lula, que é candidato, é rejeitado por 68%. Eles são o velho e, como tal, já ficaram para trás.
O juiz Sérgio Moro, o apresentador de TV Luciano Huck e o ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa tiveram aprovação de 63%, 44% e 42%, respectivamente. Comparados aos outros, são vistos como o novo.
O senador Paulo Paim (PT-RS) é um dos poucos nos quais se percebe uma preocupação com o futuro imediato do País. Ele não defende a candidatura personalista de Lula. Acha que o novo tem outra fórmula: independentemente de questões ideológicas, grupos interessados em um projeto de Nação deveriam se reunir e debater as saídas com a sociedade. A partir do que for apurado, forma-se uma frente ampla pelo Brasil, sem siglas nem nomes que marquem um ou outro, mas todos iguais em um projeto de união.
Ou a política toma as rédeas da situação e procura uma saída que seja política, ou a sociedade o fará fora da política, com risco de atropelar todo mundo.
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