- O Globo
A economia permanece em ambiente de crise, mas vai acumulando indicadores melhores. O comércio surpreendeu no segundo trimestre e interrompeu uma sequência de oito quedas consecutivas. O setor de serviços subiu pelo terceiro mês seguido. O IBC-Br também mostrou alta no segundo trimestre, e algumas projeções do PIB deixaram de ser de queda.
As melhoras pontuais não resolvem nem de longe os dois principais problemas da economia brasileira hoje: o desemprego e a crise fiscal. Esta semana o IBGE divulgou o índice trimestral mais amplo revelando que o desemprego, o subemprego e o desalento atingem 26 milhões de brasileiros. A crise fiscal teve também esta semana uma prova de que estamos em um buraco sem fundo.
Mesmo assim, já se pode dizer que os sinais da maior recessão da história vão ficando para trás. A estagnação diminui o medo da perda do trabalho, mas é incapaz de gerar vagas para trazer de volta ao mercado 13,5 milhões de desempregados. E ainda gera postos de baixa remuneração e sem garantias, como ficou claro na estatística do IBGE. O desemprego aumentou no Nordeste e também subiu no Rio.
As conversas com empresários mostram que há setores dando sinais de maior otimismo, enquanto outros permanecem em compasso de espera. O varejo farmacêutico continua crescendo, o da produção de eletrodomésticos já desistiu até do ano que vem.
— Tivemos um aumento de market share, mas o nosso setor antes era uma pizza grande e agora é uma pizza pequena. O nível de emprego não vai melhorar até 2019, por causa da incerteza eleitoral do ano que vem — disse João Carlos Brega, presidente da Whirlpool no Brasil, que tem as marcas Brastemp e Consul.
Uma visão bem diferente tem Marcílio Pousada, que é presidente da Raia Drogasil. Ele baseia sua expectativa sobre o desempenho do setor não em um fator conjuntural, mas na mudança demográfica no Brasil:
— O envelhecimento da população brasileira está com uma taxa mais acelerada do que em outros países. Isso dá resiliência ao setor farmacêutico. A nossa empresa tem capital aberto desde 2012 e vem crescendo com muita força. Nesse período, o faturamento saltou de R$ 5,6 bilhões para R$ 11,8 bilhões.
Se no ano passado o PIB afundou 3%, o faturamento da empresa subiu 25%. Ainda neste primeiro trimestre, a alta foi de 16% em termos nominais, em relação ao mesmo período do ano passado.
O setor automotivo afundou não só com a recessão, mas em função das políticas adotadas em anos anteriores. A redução do IPI levou à antecipação de compras. O estímulo ao crédito provocou uma alta da inadimplência. O mercado, em 2012, era de 3,8 milhões de veículos vendidos no ano, hoje, está na casa de 2 milhões. Agora, o presidente da Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras), Luiz Montenegro, começa a ver os primeiros sinais de retomada e elevou de 5% para 10% a previsão de aumento das operações de crédito este ano.
— Há uma demanda reprimida por veículos muito grande, porque o mercado se contraiu demais. A população, tão logo perceba que o desemprego parou de subir, voltará a fazer gastos de longo prazo. Acho que houve uma virada na economia do primeiro para o segundo semestre. Isso já havia sendo sinalizado no primeiro trimestre, e, apesar da crise política que aumentou a incerteza, se confirmou — disse.
Montenegro explica que um bom indicador de tendência é o aumento das vendas de carros à vista, que chegou a 46% do total, atualmente. Isso mostra que o consumidor com maior poder aquisitivo já voltou a comprar.
— Esse vem primeiro, os outros vêm depois, por meio de financiamentos — disse.
A inadimplência da carteira de veículos, que chegou a 7,2% em 2012 recuou para 4,3%, mas ainda acima do nível desejado pelos bancos, ao redor de 3%.
A economia está deixando o ambiente gelado no qual caiu por 11 trimestres e, como sempre acontece, ela se aquece de forma desigual. Mas o grande problema econômico permanece sendo a política e o clima de total incerteza que a cerca e que tira o horizonte necessário ao planejamento dos investimentos.
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