- O Estado de S.Paulo
Será difícil convencer o eleitor de que os tucanos não têm nada a ver com Temer
A menos de uma semana de completar 28 anos de existência, o PSDB vive seu maior dilema: ser governo, ser oposição, equilibrar-se em cima de uma mureta? Qualquer saída que se ache não resolverá o drama existencial do partido, porque é um drama agravado pela rejeição do eleitor ao comportamento dos políticos, conforme se vê a cada nova pesquisa de opinião que é divulgada.
Diante dessa realidade, parte do PSDB acha que deve permanecer ao lado de Michel Temer e parte acredita que a salvação do partido está no afastamento imediato do governo. Tal providência, no entanto, dificilmente convencerá o eleitor de que o PSDB, por se distanciar de Temer, merece credibilidade maior. Não dá para crer que uma providência tão singela vá convencer o eleitor a mudar sua opinião.
Para o eleitor, os políticos são praticamente iguais. O PSDB não pode se considerar diferente, porque não é. Quando o governo do Rio se viu obrigado a mandar à Assembleia Legislativa um projeto de lei que autorizava a privatização da Cedae, a companhia de água e esgotos do Estado, os tucanos se posicionaram contra a proposta. Ora, a vida toda o PSDB espalhou a ideia de que é a favor de um Estado mínimo e da privatização de estatais. Como a venda da Cedae não beneficiaria o partido, ficou contra. Naquele momento, igualou-se aos outros, pisou em sua história.
O dilema existencial dos tucanos nem deveria existir. O PSDB, como o DEM e o PPS, os três que faziam oposição ao governo petista, apoiou o impeachment de Dilma Rousseff e ofereceu sustentação ao governo Michel Temer.
As reformas tiveram início, foram muito bem e os tucanos ficaram cada vez mais animados com a possibilidade da volta ao poder. Até porque Temer, que não é bobo, bateu à porta de cada um dos possíveis candidatos do PSDB à Presidência da República para lhes dizer que deixaria para o sucessor uma máquina azeitadinha, com as contas em dia, com o equilíbrio fiscal garantido.
Veio a revelação da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista, uma conversa para lá de esquisita, muitas vezes explicada, mas nunca o suficiente para convencer, e tudo desandou. Não só para Temer, mas também para o PSDB, porque o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), foi pego em um papo comprometedor com o empresário. Daqueles de dar vergonha alheia.
A partir daí, parte do PSDB começou a achar que estava na hora de abandonar Michel Temer. A eleição está chegando e a proximidade com o presidente poderia ser contagiosa.
Ninguém garante, e é sempre bom repetir, que o eleitor vai cair nessa conversa. Difícil não associar a imagem do PSDB com a do governo Michel Temer. Também é impossível pensar em reformas que visam à busca do equilíbrio fiscal, como a do Teto dos Gastos, sem pensar que por trás delas não está um tucano.
Qualquer coisa pode acontecer na política. Até mesmo nada. Por isso, também não dá para dizer que o PSDB vai se dar muito mal ao repelir o governo Temer. Mas é mais lógico pensar que o partido se sairia melhor se ficasse ao lado do governo.
Se o País retomar o crescimento econômico, e se a geração de empregos voltar, os tucanos teriam pelo menos uma bandeira a levantar nas eleições, dizendo-se inspiradores da ideia das reformas.
Caso o governo Temer termine em um grande fracasso, os tucanos dirão que se afastaram porque perceberam a fria em que entraram? Esse campo já pertence ao PT. Dirão que o governo do PMDB estava metido em irregularidades? E eles? E a conversa de Joesley com Aécio? E a imagem da mala de dinheiro que circulou pelos jornais de TV do Brasil e do mundo? Essas imagens estão presentes na cabeça do eleitor. Só o PSDB acha que não estão.
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