Superada a última grande turbulência política, empresários e investidores dão sinais, novamente, de maior confiança em relação às perspectivas da economia. Barrada na Câmara a ação contra o presidente da República, o horizonte ficou um pouco menos enevoado, apesar das enormes dificuldades para execução do programa de reparo das contas públicas. Mesmo diante de um cenário muito desafiador, é sensível a melhora das expectativas. Em agosto, o índice de confiança do empresário industrial voltou a subir, depois de dois meses de queda, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com alta de 2 pontos em relação ao nível de julho, o indicador atingiu 52,6 pontos, muito acima do patamar de dois anos atrás (37,1), quando era ainda muito difícil avaliar até onde o País afundaria na recessão.
A escala usada na sondagem mensal da CNI vai de zero a 100. A linha de 50 pontos divide as áreas de avaliação negativa e positiva. Com 52,6 pontos, o índice de confiança está um pouco acima da linha de indiferença e aponta algum otimismo em relação aos próximos seis meses.
Esse otimismo é ainda insuficiente para desencadear uma onda de investimentos em ampliação e renovação do potencial produtivo, mesmo porque ainda há muita capacidade ociosa nas fábricas. A ociosidade, segundo as últimas estimativas, continua superior, em média, a 20% da capacidade instalada, mas a tendência tem sido de redução, graças a um moderado aumento do consumo e à expansão, em alguns segmentos, das exportações.
O índice de confiança elaborado pela CNI tem dois grandes componentes. Um é relativo à situação atual. O outro se refere à expectativa em relação aos seis meses seguintes. Houve melhora nos dois itens, em agosto, mas a visão do futuro continua bem mais positiva que a do presente.
O índice de avaliação das condições atuais passou de 44,2 pontos em julho para 46,5 pontos em agosto, nível bem superior ao de um ano antes (42,2), mas ainda em território negativo, isto é, abaixo de 50. Talvez fosse mais preciso descrever a mudança de um mês para outro como percepção de um quadro menos ruim.
Em relação aos seis meses seguintes, o indicador subiu de 53,8 para 55,8 pontos – um pouco abaixo do registrado um ano antes (56,2). Durante esses 12 meses, o índice de expectativas esteve sempre acima da linha divisória. Essa visão mais positiva do futuro coincidiu com o período de consolidação do novo governo e de renovação da política econômica.
Embora a reativação tenha sido registrada mais claramente a partir do primeiro trimestre deste ano, sinais positivos na economia, como o recuo da inflação, o corte dos juros básicos e a tentativa de correção da política fiscal, começaram a manifestar-se no segundo semestre do ano passado.
O índice de confiança melhorou em todos os grandes segmentos – de 48,4 para 50,3 na indústria de construção, de 52,3 para 53 na extrativa e de 51 para 53,2 pontos na de transformação. Os níveis de otimismo variaram de acordo com o tamanho das empresas: 50 no caso das pequenas, 51,4 no das médias e 54,5 no das grandes. As pequenas e médias, obviamente mais afetadas durante a crise, estavam em julho em território negativo, com 47,9 e 49,6 pontos. As grandes estavam com 52,3, abaixo do nível de agosto de 2016 (53,1).
Não há detalhes explicativos no material da CNI, mas a diferença das condições de financiamento é um dos fatores explicativos, com certeza, das avaliações menos otimistas apresentadas pelos empresários das empresas pequenas e médias. Mesmo com a redução dos juros básicos a partir de outubro, o crédito continuou muito caro e o acesso aos empréstimos permaneceu restrito.
Além disso, as empresas maiores ainda são predominantes na exportação e tiveram também esse recurso para atenuar as dificuldades de um mercado interno ainda fraco.
Expectativas são um componente importante da vida econômica e dependem também de fatores políticos. Desse lado, continua muito grande o risco de notícias assustadoras.
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