Por Andrea Jubé e Bruno Peres | Valor Econômico
BRASÍLIA - Em reação à segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer divulgou ontem uma nota dura onde questiona a atuação do chefe do Ministério Público Federal, aponta a fragilidade das provas e define o documento como uma peça de "realismo fantástico em estado puro".
Hoje, após avaliar a repercussão das acusações e voltar a se reunir com aliados e advogados, Temer cogita fazer um pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto para reforçar a contestação ao ato de Janot.
O Planalto não foi surpreendido, porque a segunda denúncia era considerada há dias fato consumado, sendo que a dúvida era quanto ao conteúdo e robustez.
Ao tomar conhecimento do documento, Temer já estava reunido com auxiliares e aliados discutindo a estratégia para arquivá-lo o quanto antes na Câmara. Estavam com o presidente no gabinete, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, que também é alvo da denúncia, das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), além do líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e do vice-líder e relator da CPMI da JBS, Carlos Marun (PMDB-MS).
O advogado de Temer, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, pediu ao Supremo Tribunal Federal a suspensão do envio da denúncia à Câmara. Mas caso o pleito não seja deferido, Temer e seus aliados articulam acelerar o trâmite da denúncia e liquidar o assunto antes do agravamento da crise.
No comunicado, assinado pela Secretaria de Comunicação da Presidência, Temer acusou Janot de seguir em uma "marcha irresponsável para encobrir suas próprias falhas", ao ignorar as suspeitas que fragilizam as delações em que se baseia a segunda denúncia, como a falta de credibilidade das testemunhas.
Auxiliares de Temer lembram que os principais delatores - Joesley e Wesley Batista, Ricardo Saud, - estão presos, igualmente acusados de obstrução à Justiça. Enquanto o doleiro Lúcio Funaro, além de continuar preso, foi acusado no passado de mentir em uma delação.
Sem citar expressamente o nome do ex-procurador Marcelo Miller, Temer acusa Janot de "tenta criar fatos para encobrir a necessidade urgente de investigação sobre pessoas que integraram sua equipe". Miller, que integrou a equipe de Janot, é acusado de interferir nas investigações para favorecer a delação dos executivos da JBS, Joesley e Wesley Batista e Ricardo Saud, agora presos. Ontem Janot rescindiu integralmente o acordo de colaboração premiada firmado com os executivos.
"Ao não cumprir com obrigações mínimas de cuidado e zelo em seu trabalho, por incompetência ou incúria, coloca em risco o instituto da delação premiada. Ao aceitar depoimentos falsos e mentirosos, instituiu a delação fraudada. Nela, o crime compensa", acusa Temer. Ainda no comunicado, o presidente observa que Janot o acusa de receber propinas e fala em pagamentos em contas no exterior, mas não demonstra a existência das contas em outro país. "Transforma contribuição lícita de campanha em ilícita, mistura fatos e confunde para tentar ganhar ares de verdade".
Em nota, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, alvos da denúncia, disseram que as acusações baseiam-se em delatores que negociaram benefícios "sem compromisso com a verdade".
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