- Valor Econômico
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Primeiro presidente denunciado à Justiça no exercício do mandato, Michel Temer sofreu ontem a segunda acusação em menos de três meses. Desta vez, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o denunciou por supostamente liderar organização criminosa e obstruir a Justiça. Em sua despedida do cargo, que exerceu por quatro anos, Janot incluiu na denúncia seis aliados políticos de Temer, todos do PMDB, além do empresário Joesley Batista, dono da JBS, e o executivo da J&F, holding da família Batista, Ricardo Saud - que tiveram seus acordos de delação premiada cancelados e perderam direito à imunidade penal.
Na denúncia, apresentada 72 horas antes do fim do mandato, Janot acusa Temer e os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, além dos ex-deputados Geddel Vieira Lima, do ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures e os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) de terem arrecadado cerca de R$ 587 milhões em propinas.
Segundo Janot, Temer e seu grupo teriam montado esquema de corrupção com presença nas estatais Petrobras, Furnas e Caixa Econômica Federal, nos ministérios da Integração Nacional, Agricultura e Aviação Civil e na Câmara dos Deputados durante os últimos 11 anos. O prejuízo aos cofres públicos gerado pelo superfaturamento de contratos pode chegar a R$ 29 bilhões, segundo Janot.
A acusação sustenta que essa organização criminosa fazia parte de uma estrutura maior, composta por outros núcleos integrados por políticos do PT, PP e PMDB do Senado. Janot apresentou denúncias contra integrantes desses grupos nas últimas duas semanas. Ele afirma que Temer teria praticado o "crime de embaraço às investigações", junto com Joesley Batista e Ricardo Saud. Segundo a denúncia, o presidente teria estimulado os dois a subornarem Cunha e Lúcio Funaro, que estão presos, para que não colaborassem com as investigações.
A acusação contra Temer e o núcleo do governo é amparada por depoimentos de dezenas de delatores, como Funaro e Alberto Youssef, e executivos da Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Correa. Janot também acusa Cunha de cobrar propina de empresários em troca de medidas legislativas. A denúncia contra Temer só deve chegar à Câmara depois do dia 20. Na primeira denúncia, Temer teve apoio da maioria dos deputados para impedir que fosse processado no STF. A expectativa dos governistas é de obter maioria novamente.
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