- O Globo
Brasil pode ter matriz energética limpa
E m comemoração aos 80 anos do IBGE, o então presidente Paulo Rabello de Castro me convidou, há quase um ano, para um painel muito honroso, em sua companhia, do professor e economista Rubens Cysne, da FGV, e do também ex-presidente da instituição, professor Simon Schwartzman.
O tema era planejamento. Na minha fala mencionei que o Brasil já estava com os dois pés na “armadilha da renda média”, pântano no qual um país deixa de ser pobre mas nunca se torna desenvolvido. E acrescentei: nossa chance é apostar e nos planejarmos para a grande transição mundial rumo a uma economia global de baixo carbono.
Paulo e Rubens conhecem minhas opiniões como economista e me pouparam de esclarecer que mais urgente é acertar as contas fiscais e elevar a taxa de poupança da economia brasileira.
Creio que concordam comigo que essas são condições prévias e necessárias, mas não garantem o desenvolvimento. É claro que há muito mais reformas a serem feitas para tentar uma inserção competitiva na economia global.
Já o professor Simon Schwartzman, um dos grandes do Brasil em todos os tempos no mais importante dos assuntos, a educação, me olhou meio brabo (tímida e discretamente, como é de seu feitio) e balbuciou de forma que apenas nós na mesa ouvimos: “É a educação.” Escrevo esta coluna para esclarecer minha opinião e para tirar um peso da alma, a crítica, ainda que íntima, do mestre e amigo. É claro que o fundamental é a educação. Mas a mudança leva no mínimo uma geração.
Contudo, o mundo terá que abandonar nas próximas décadas a civilização dos combustíveis fósseis e ir para o baixo carbono ou o aquecimento global se converterá em um pesadelo. O Brasil é o único país grande que, nessa transição gigante, tem condições de se tornar muito mais competitivo.
O Brasil pode ter uma matriz energética limpa a custo menor do que qualquer outra economia relevante do planeta, com forte impacto na nossa competitividade na produção de bens e serviços.
Temos que reduzir o custo Brasil aumentando muito a produtividade de nossa infraestrutura. Por que não fazêlo então, desde já, em modalidades de baixo carbono? Faz sentido um país continental transportar carga em caminhões a diesel?
A revolução da biologia sintética já está no horizonte. Temos a maior biodiversidade do planeta se soubermos proteger nossos biomas, o que será uma riqueza extraordinária. Nosso reservatório genômico é nossa Biblioteca de Alexandria.
Temos espaço e condições de, sem desmatar um centímetro, oferecer alimentos a baixo carbono para todo o mundo. E temos a chance de sermos os primeiros a encontrar formas de desenvolvimento sustentável para as florestas tropicais.
Mudanças climáticas estão no centro das possibilidades de desenvolvimento do Brasil. Mas depende de trabalho, planejamento e conhecimento.
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Sérgio Besserman Vianna é presidente do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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