- O Estado de S.Paulo
Enquanto os partidos se acertam, o PSDB corre o risco de ficar isolado
A situação do PSDB hoje é tão confusa, e a divisão é tão grande, que não é possível afirmar que o governador Geraldo Alckmin se tornará um candidato competitivo na eleição presidencial. Também não dá para anunciar um desastre semelhante ao de Ulysses Guimarães, que em 1989 amargou o sétimo lugar e apenas 4,73% dos votos, mesmo sendo o político mais conhecido do País, tanto pela presidência da Assembleia Constituinte, encerrada um ano antes da eleição, quanto pela luta contra a ditadura.
Alckmin tem muitos votos em São Paulo e isso conta. Mas seu partido não ajuda. Hoje, por todas as aferições já feitas, a situação do PSDB é ruim em Minas Gerais, o segundo colégio eleitoral do País. E pode piorar por causa do escândalo da conversa entre o senador Aécio Neves e o empresário Joesley Batista. Em boa parte dos Estados de grande densidade eleitoral a situação dos tucanos também não é boa, a exemplo de Bahia, Ceará, Goiás, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco.
Um sinal de que a confiança numa vitória de Alckmin está abalada pode ser extraído de um levantamento feito pela XP Investimentos com 211 investidores institucionais que representam mais de 50% dos recursos sobre gestão no Brasil. Na consulta feita entre os dias 21 e 23, divulgada ontem, 46% dos investidores disseram acreditar que Alckmin será o próximo presidente. Se a confiança do investidor fosse grande, no mínimo o índice de aposta em Alckmin teria de ultrapassar os 50%, porque aqui se trata de uma torcida a favor de alguém que o mercado considera benéfico para o setor. O ex-presidente Lula, por exemplo, apareceu com 2% das indicações, embora todo mundo saiba que ele está na frente em todas as pesquisas sobre a sucessão presidencial. O mercado, é sabido de todos, não quer Lula de jeito nenhum na Presidência de novo. Nesse caso, a torcida foi contra.
Falta pouco menos de um ano para a eleição. Ainda dá tempo de Alckmin trabalhar para reverter o quadro hoje complicado para ele. Principalmente depois que o nome do apresentador Luciano Huck apareceu com o maior índice de aprovação entre as personalidades do País, com 60%, em pesquisa do Barômetro Político Estadão-Ipsos. Na consulta da XP com os investidores, Huck ficou em segundo lugar, com 19%.
Na situação em que se encontra, a primeira atitude de Alckmin deveria ser a costura de um acordo com o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador de Goiás, Marconi Perillo, para que abram mão da disputa pela presidência do PSDB em seu favor. Alckmin é o único que tem condição de unificar o partido, pois as duas alas já deixaram claro que vão apoiá-lo. Caso o quadro não mude, nem Jereissati nem Perillo vão conseguir acabar com a divisão. E ela, por certo, terá reflexos na candidatura presidencial. Portanto, mesmo que não queira, como tem dito, Alckmin não terá outra alternativa a não ser se tornar presidente da legenda. Até porque, no cargo de presidente, pode circular pelo Brasil sem ser acusado de estar fazendo campanha antecipada. E caberá a ele mesmo negociar apoios à sua candidatura. Deixar essa função para outros, com o PSDB desgastado, com seus ministros praticamente escorraçados do governo pelo PMDB e pelos partidos do Centrão, é um risco sem fim.
As brigas internas do PSDB na proximidade das eleições e o rompimento de parte do partido com o governo de Temer serviram de deixa para que o PMDB e o PT se reaproximassem, principalmente no Nordeste e no Norte. O DEM e alguns partidos do Centrão caminham na direção do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Até mesmo o PSB, com o qual Alckmin contava, não é mais uma parceria certa.
O governador Geraldo Alckmin está meio que como aquele filme alemão cujo título é Corra, Lola, corra.
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