- O Globo
O resultado do PIB do terceiro trimestre se saberá na próxima sexta-feira e há uma expectativa entre quem acompanha os dados de que a economia tenha crescido 0,3%. Mas o mais importante é que as projeções indicam que o investimento voltou a crescer, apesar de todas as incertezas políticas. A alta do PIB pelo terceiro trimestre será puxada pela compra de máquinas e pelo consumo das famílias.
O Banco Central divulgou, dias atrás, um resultado positivo para a atividade no terceiro trimestre, mas há vários outros sinais de recuperação em vendas do varejo, emprego formal e, principalmente, arrecadação. Com os dados antecedentes disponíveis, os economistas acreditam que haverá um novo número positivo no PIB, após as altas de 0,2% no segundo trimestre e de 1% entre janeiro e março. No começo de ano o protagonismo esteve com a agropecuária, agora a reação da economia é mais abrangente. Pelo índice de difusão da consultoria GO Associados, 77,1% das séries acompanhadas pelo IBGE estão no terreno positivo. Inclusive o investimento no período entre julho e setembro, após uma sequência de 14 quedas em 15 trimestres. No ano passado, ele havia encolhido 10,2% depois de ter retraído 14% em 2015. A estimativa da GO é que a Formação Bruta de Capital Fixo tenha crescido 2,2% na comparação com o segundo trimestre.
— Esse avanço não é sazonal, parece mais consistente. As vendas de máquinas e equipamentos estão crescendo. A construção, que é outro segmento relevante do investimento, ainda não reagiu porque os estoques estão altos. Mas a queda nos juros tende a destravar as obras. Os setores de energia e de óleo e gás já têm dados interessantes — conta Gesner Oliveira, da GO.
Essa saída da recessão é lenta, mas tem ficado mais consistente, apesar de ter sido um trimestre conturbado na política. O governo dedicou seu tempo e sua influência para barrar as denúncias contra o presidente Michel Temer. A primeira delas foi rejeitada pela Câmara em agosto. O Planalto continuou fazendo concessões nos meses seguintes para travar as investigações da segunda ação da Procuradoria-Geral da República. Esse foi o foco do governo até outubro. Apesar disso os indicadores apontam que a economia real conseguiu reagir.
O Santander espera alta de 0,3% do PIB na comparação com o segundo trimestre. A virada fica mais clara quando se compara com o mesmo período de 2016. Por esse recorte, a economia avança a um ritmo mais forte, de 1,4% pela estimativa do banco. No segundo trimestre, pela mesma comparação, a alta foi de apenas 0,3%.
Os especialistas explicam que a economia teve uma reação em cadeia neste ano, daí vem o otimismo com os próximos meses. O clima ajudou e a supersafra de grãos derrubou a inflação. Isso provocou um ganho real de renda e os consumidores foram às compras, impulsionadas também pela liberação do FGTS. Estima-se que o consumo das famílias, responsável por mais de 60% do PIB, avançou ao ritmo de 2% no terceiro trimestre. A demanda maior aqueceu o mercado de trabalho; a massa de rendimentos cresceu 2,4%. E o IPCA comportado permitiu ao BC reduzir os juros.
— O efeito dos juros menores ainda não foi totalmente refletido na economia. A redução vai continuar ajudando às empresas e famílias. E já é possível ver pequenos pontos de melhora. A parcela da renda dedicada ao pagamento de juros, por exemplo, caiu de 24% para 23%. Mas é como se a renda dos consumidores tivesse crescido 1% nos últimos meses — conta Mauricio Molan, economista-chefe do Santander.
Os dados da atividade levaram especialistas a rever estimativas. A consultoria Tendências agora espera alta de 0,4% no PIB do trimestre, mais que o 0,2% original. O diagnóstico é semelhante ao de outras consultorias. O consumo reagiu e os investimentos pararam de cair. A expectativa para o PIB do ano está sendo revista para algo próximo a 0,9%.
— A economia começa a pegar tração. No último trimestre do ano, a taxa deve chegar a 2% na comparação com 2016, e vai continuar subindo em 2018. Trimestre a trimestre, as estimativas são revisadas para melhor — conta Bruno Levy, da Tendências.
Há projeções mais otimistas para 2018, de até 3,2% de alta no PIB. O problema continuará sendo a absoluta incerteza política.
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