- Folha de S. Paulo
É preciso uma exagerada dose de otimismo para apostar na aprovação da reforma da Previdência em dezembro pela Câmara.
Todos os sinais até agora movem-se no sentido contrário. O governo pena para ultrapassar, em um cálculo bem ousado, os 270 votos, patamar relativamente distante dos 308 exigidos para o texto avançar.
A data chave para o Planalto tentar votar a proposta é 6 de dezembro, quarta-feira. Tende a ser a última semana "cheia" do ano em plenário. Deixar a votação para a seguinte, que antecede a do Natal, seria um gesto arriscado em termos de presença. Portanto, o governo tem nove dias para fazer o que não fez até hoje: consolidar na Câmara apoio suficiente ao que pode ser o principal legado econômico da turbulenta gestão de Michel Temer.
O tempo é curto e a missão, árdua. A recente aproximação entre Temer e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por ora não resultou em votos. Escalado para controlar o incontrolável e sedento "centrão", Maia tem sido cético na previsão da reforma. No entanto, quer (e precisa) transparecer esforço porque sabe que a mudança nas regras da aposentadoria daria força política a ele em ano eleitoral e agradaria o mercado, um dos seus principais aliados no comando da Câmara.
As últimas cartadas do Planalto em busca de voto falharam. O convescote no Alvorada para apresentar uma proposta enxuta foi fiasco de público. Assim como desastre foi a operação, de olho em votos do "centrão", para tentar nomear ministro da articulação política o deputado Carlos Marun (PMDB-RS), amigo do peito de Eduardo Cunha.
O PSDB evita romper a tradição de não saber direito para que lado vai. E o desejo do governo de comprometer pontos do ajuste fiscal em troca da Previdência enfrenta resistências. A figura do santo na política é algo impossível, ainda mais na Câmara de hoje. Mas só um milagre parece capaz de garantir essa reforma.
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