- O Globo
“É preciso que se julguem os crimes de corrupção, que ninguém suporta mais”. Cármen Lúcia, presidente do STF
De hoje até o próximo dia 15, o espaço aéreo brasileiro estará fechado a decolagens de ministros de Estado com destino ao exterior. Quem está dentro não sai, quem está fora volte logo. A ordem dada por Temer surpreendeu oito ministros com viagens marcadas para o período. Como pressionado ele sempre recua, poderá liberar uma viagem aqui, outra ali. Conselho aos interessados em voar: insistam.
O PRESIDENTE AINDA NÃO explicou por que deseja seus ministros em terra, e de preferência em Brasília ao alcance de um chamado seu para despacho. Certamente tem a ver com a votação da reforma da Previdência Social, prevista para o dia 9, na Câmara dos Deputados. E também com a promessa feita por ele, e depois revogada, de que reformaria seu governo até meados de dezembro.
QUASE TODOS OS MINISTROS de Temer são deputados. No caso de batalhas parlamentares de resultado incerto, eles são demitidos com a missão de reforçar a tropa do governo. No dia seguinte, retornam aos seus cargos. Deverá ser assim outra vez. Mas quem sabe o que se passa na alma de Temer quanto à ideia de estrear um novo ano com um novo governo? Era o que ele queria.
EM ALMOÇO NA SEMANA passada com um amigo de Brasília no restaurante Gero, em São Paulo, o exministro Delfim Netto disse que já não se preocupa mais com a reforma da Previdência. Por inevitável, segundo Delfim, ela será aprovada — agora, no início de 2018 ou depois da instalação do futuro governo. Não é mais uma questão de escolha, mas de imperiosa necessidade.
QUANTO MAIS DEMORAR A SER aprovada, mais dolorosa haverá de ser, acredita Delfim. A melhora da economia é lenta. O número de desempregados, expressivo. A descrença dos brasileiros nas instituições só cresce. O risco de uma explosão social parece contido porque estamos a menos de um ano de novas eleições. É impensável que o Brasil de amanhã se torne o Rio de Janeiro de hoje.
DO AMIGO COM QUEM ALMOÇOU, Delfim ouviu um comentário que só reforçou sua convicção de que a reforma da Previdência virá por bem ou por mal: a economia de cerca de 70% dos municípios depende do dinheiro movimentado pelos pensionistas. Ela gira porque eles gastam. Se não gastarem porque o sistema quebrou, os municípios quebram. É simples assim. Este é um país aposentado.
PODE SER SIMPLES, MAS PARA deputados e senadores empenhados em se reeleger é complicado votar uma reforma que lhes poderá custar muitos votos. É isso o que dizem três entre quatro deles em rodas de conversas dentro do Congresso. Se pelo menos o de Temer fosse um governo com um mínimo de apoio popular... Se a propaganda do governo em defesa da reforma tivesse sido eficaz...
O IDEAL PARA ELES SERIA QUE a reforma ficasse para ser feita pelo próximo governo. Uma vez legitimado pelo voto, o sucessor de Temer, seja ele quem for, terá força para logo de saída bancar a reforma necessária, mais ampla até do que a reforma desidratada oferecida agora ao exame do Congresso. E a resistência à reforma de um Congresso renovado será muito menor.
DE FATO, UM PRESIDENTE recém-eleito não costuma enfrentar por aqui a oposição do Congresso. Muito menos da Justiça. Eleito depois de baixar o cacete indiscriminadamente em todos os poderes, Fernando Collor desembrulhou um pacote de medidas econômicas que feriam os direitos adquiridos e o bom senso. Garfou a poupança. O Congresso engoliu a seco. A Justiça fechou os olhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário