Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Fortalecido pela crise política e pelo papel de articulador das reformas do governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), traça planos para continuar no cargo na próxima legislatura. Um dos próximos passos ocorrerá até o fim do ano, com o lançamento do "novo" DEM e a filiação de uma dezena de deputados federais.
A ideia é posicionar o DEM, hoje com 29 deputados, entre as maiores legendas da Câmara, posto que atualmente é do PMDB, com 60 parlamentares. O partido ficará menor que as pretensões iniciais dos líderes do DEM porque a emenda que previa a distribuição da propaganda eleitoral e dinheiro público para campanhas com base nas futuras bancadas não foi aprovada, o que limitará o crescimento da sigla, mas a legenda ainda deve ganhar pelo menos dez deputados.
Com a fragmentação partidária no Congresso, contudo, a tese de dirigentes do DEM é de que não haverá "superbancadas" na próxima legislatura, mas vários partidos na faixa dos 50 deputados. Quem estiver nessas siglas e com bom trânsito nos demais setores da Câmara terá condições de disputar o comando da Casa.
Aliados afirmam que Maia construiu em um ano e meio como presidente da Câmara uma relação com todos os partidos e correntes, o que teve papel importante em sua primeira eleição, quando só contou com apoio do Palácio nas últimas 24 horas e os votos da oposição foram decisivos para torná-lo competitivo. Esse apoio pode servir como diferencial em 2019, caso não seja apoiado pelo novo governo.
Embora tenha uma pauta diametralmente diferente dos partidos de oposição ao governo Temer, o presidente da Câmara deu um espaço generoso para que os deputados oposicionistas atuassem, com a relatoria de projetos importantes, como a reforma política e de parte da agenda de segurança pública. Pautou ainda projetos de interesse das legendas de oposição, como a regulamentação do Uber, que tem no líder do PT, Carlos Zarattini (SP), um dos principais defensores.
A postura já rendeu até críticas veladas do governo. Maia entregou um dos principais projetos do ajuste fiscal de 2018, a reoneração da folha de pagamento das empresas, ao deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que é um de seus principais aliados, mas faz oposição ao governo Temer - e, logo que assumiu a função, defendeu alterações no texto.
Por outro lado, Maia mantém constante agenda de jantares e almoços com presidente e líderes de partidos da base e se manteve fiel ao presidente Michel Temer nas duas denúncias criminais que ele respondeu na Câmara. Muitos governistas insinuaram apoio para Maia assumir a República, mas ele não fez gestos ostensivos para ficar com o cargo e se limitou a um distanciamento protocolar do governo.
A fidelidade a Temer rendeu influência nesse novo momento do governo, que ele usou para contemplar aliados. O deputado Juscelino Filho (MA), por exemplo, estava com a nomeação de um aliado para o Banco do Nordeste (BNB) travada após apoiar Temer na primeira denúncia. Maia recomendou a ele que apoiasse Temer na segunda acusação que ele resolveria a pendência. O cargo saiu logo depois.
Maia também usou no começo do ano um "bônus" que o cargo lhe dá em emendas ao Orçamento para distribuir para os suplentes que assumiram em fevereiro. Com gestos assim, pretende fidelizar os aliados para uma futura eleição.
No caminho desse plano de se reeleger pela segunda vez seguida presidente da Câmara há, contudo, alguns percalços. Um é a Lava-Jato, na qual Maia é alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas delações da OAS e Odebrecht, nenhum deles transformado em denúncia até agora. E a eleição de um presidente da República de outro campo político, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Marina Silva (Rede).
Dirigentes do DEM apostam que, com a condenação de Lula, haverá um campo mais fértil para candidatos da centro-direita, onde estaria posicionado também o governo Temer. E, dentro da centro-direita, mesmo que o presidente eleito não seja alinhado ao grupo de Maia, a tese é de que ele não poderá trabalhar contra a candidatura à reeleição do atual presidente da Câmara, pois dependerá dele para evitar a "pauta-bomba" após a eleição, aprovar projetos de interesse da nova gestão e negociar o Orçamento de 2018.
Diferentemente do que ocorreu em fevereiro, quando a candidatura de Maia foi contestada por ser uma reeleição dentro de uma mesma legislatura, a recondução no mandato seguinte já tem precedentes e ocorreu cinco vezes desde a nova Constituição: Ulysses Guimarães (PMDB) e Temer na Câmara, Antonio Carlos Magalhães (PFL), José Sarney (PMDB) e Renan Calheiros (PMDB) no Senado.
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