segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Reforma ou crise: Editorial/Folha de S. Paulo

A nova versão, menos ambiciosa, do projeto de reforma da Previdência tem pela frente, sem dúvida, um percurso congestionado, sob risco de acidentes fisiológicos.

Neste final de ano parlamentar, ainda é necessário votar medidas adicionais do ajuste orçamentário, anunciadas em agosto, e o Orçamento federal de 2018. Na fila estão ainda projetos que refinanciam dívidas de setores diversos.

O governo Michel Temer (PMDB) previu com otimismo que a emenda previdenciária pudesse ir ao plenário da Câmara dos Deputados em menos de duas semanas.

Neste momento, parte dos parlamentares da coalizão governista dizem rejeitar o texto tal como ele está, reivindicando novos abrandamentos —em muitos casos, decerto, trata-se de mera barganha em busca de cargos ou verbas.

O PSDB, que no passado lançou e conduziu a plataforma reformista, não pretende exigir de seus membros o voto pela mudança. Os tucanos, a esta altura, mostram-se mais dedicados à picuinha interna e aos cálculos eleitorais.

Apesar de todos os percalços, merece apoio esta nova tentativa de aprovar, ainda neste mandato presidencial, alterações essenciais no sistema brasileiro de aposentadorias e pensões por morte.

A saber, a fixação de idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, com regra de transição para os trabalhadores na ativa, e aproximação dos regimes dos setores público e privado.

Ressalte-se que tal proposta nada tem de draconiana —são normas praticadas na vasta maioria dos principais países ricos e emergentes— e não basta para o reequilíbrio das contas da União.

Ainda assim, é fundamental para dar solidez à recuperação econômica hoje em curso, reduzindo os riscos de turbulências financeiras durante a disputa presidencial. Com ela crescem, ademais, as chances de sucesso do próximo governo, seja qual for.

A Temer resta pouca alternativa além de perseverar na reforma, complemento básico da agenda econômica que obteve expressivos avanços com o teto para o gasto federal, inscrito na Constituição, e o redesenho da CLT, entre outros.

Esta é a chance de sua administração, a despeito dos graves vícios no campo da moralidade, deixar um legado proveitoso.

Nem se precisa levar ao pé da letra a previsão, feita pelo Ministério do Planejamento, de nova recessão em 2019 em caso de derrota na Previdência. O período exato não importa tanto; o fato é que não há futuro viável sem o ajuste do pagamento de aposentadorias à capacidade da renda nacional.

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