quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Bom senso para crescer 3%: Editorial/O Estado de S. Paulo

Sem susto e sem grande turbulência no mercado, a economia brasileira poderá crescer 3% no próximo ano, com inflação contida, juros toleráveis, mais investimento produtivo e melhores condições de emprego. Este é o melhor cenário desenhado para 2018 pelos técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento. Basicamente positiva, a mensagem é completada por uma advertência. Será preciso manter a confiança no andamento dos ajustes e reformas. Se a percepção dos investidores for negativa, as condições de avanço econômico poderão ser comprometidas. O aviso foi dado pelo diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Jr., durante a apresentação das novas projeções.

Até aqui, as principais surpresas foram bem-vindas. A recuperação, puxada inicialmente pela agropecuária, espalhou-se pela indústria e pelos serviços. Os números acumulados durante o ano foram bastante bons para estimular a revisão das projeções.

As divulgadas em setembro apontavam crescimento de 0,7% em 2017 e 2,6% em 2018. Essas estimativas foram agora alteradas para 1,1% e 3%. Antes de anunciado publicamente, o novo cenário já foi explorado nos últimos dias pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em declarações à imprensa, mas sem referência a detalhes. Também economistas do setor financeiro e de grandes consultorias têm elevado as projeções de avanço da economia neste ano e no próximo.

Alguns desses economistas voltaram a falar de um ambiente econômico descolado da política. Essa avaliação é perigosa e provavelmente errada. O vínculo entre negócios e jogo político tem sido evidenciado com frequência pela oscilação de preços no mercado financeiro, quando há sinais de maiores tensões em Brasília ou quando aumentam as ameaças ao programa de ajustes das contas públicas e de reformas.

A ligação entre os dois domínios poderá ficar mais ostensiva durante a competição pela Presidência da República no próximo ano. “Toda eleição é motivo de instabilidade. Essa em particular tem um potencial maior para gerar instabilidade, pelo momento dramático que vivemos em termos fiscais”, observou o diretor adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Marco Antônio Cavalcanti.

Quem quiser enfrentar o assunto em seus aspectos mais técnicos poderá encontrar na Carta de Conjuntura do quarto trimestre um exercício sobre a relação entre o risco país e a disposição dos investidores no mercado internacional. O estudo dá uma boa ideia de como a piora da imagem do Brasil pode prejudicar o ingresso de capitais de risco. Mas é fácil imaginar, apenas com base na experiência comum, os efeitos de um novo rebaixamento da nota de crédito do País. Técnicos das agências de classificação acompanham a política brasileira e poderão intervir novamente se ficar caracterizado um entrave importante à continuação do programa de ajustes e reformas.

A campanha contra a modernização das instituições fiscais deverá prosseguir, provavelmente de modo mais barulhento, em 2018. Danos importantes serão evitados se o bom senso predominar no cenário eleitoral. Isso dependerá em boa parte da comunicação do governo. Não há referência, naturalmente, a esse último ponto no documento do Ipea. Mas a importância de uma comunicação mais eficiente que a observada até agora é inegável.

Sem maiores obstáculos, as condições para um crescimento mais veloz serão dadas sem surpresa. Os juros poderão cair de novo no começo do ano e permanecer abaixo de 7% até o fim de 2018, com a inflação contida. A política monetária expansiva é muito importante no cenário do Ipea. A decisão do Banco Central de abrandar o recolhimento compulsório dos bancos, liberando bilhões de reais para empréstimos, encaixa-se bem nesse quadro. O aumento recente do investimento produtivo pode ser o começo de uma tendência. Tudo isso dependerá da confiança e, portanto, da continuidade dos ajustes. Com algum juízo, o País deslanchará.

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