- Folha de S. Paulo
Fernando Collor mal aparecia nas pesquisas de dezembro de 1988. Nas citações espontâneas dos eleitores, tinha 1%, no Datafolha. Não constava das tabelas dos candidatos mais prováveis a presidente. Ali, o líder era Leonel Brizola (1922-2004). O segundo lugar era disputado por Silvio Santos, Lula da Silva e Mário Covas (1930-2001). Collor foi eleito em 1989, batendo Lula no segundo turno.
A imagem e a votação de Lula melhoram nas pesquisas de opinião desde meados do ano. Seus adversários mais relevantes tropeçam. Vai durar?
Lembrar o que os candidatos fizeram nas eleições passadas não é uma tentativa de enunciar uma lei do declínio dos presidenciáveis de sucesso precoce, um disparate. Lula pode minguar ou chegar a 50% dos votos. É imprevisível. A conversa é outra.
Para começar, no ano que vem Lula deve completar 30 anos como finalista nas disputas presidenciais. É a figura política nacional mais longeva da República. Deveria ser o bastante para que seus adversários tivessem entendido a necessidade de imaginar estratégias de conversar com os desvalidos, mesmo por cínico pragmatismo.
Para quem se habilita a aparecer com alguma conversa menos reacionária para esta eleição, ainda há tempo. Até agora, porém, o recurso de algibeira é lançar uma criatura midiática, uma marionete, ou fazer contas abstratas sobre os efeitos do PIB na eleição. Seja lá o que se entenda por melhora econômica, nem sempre vale o mote do marqueteiro americano, "é a economia, seu burro!".
Michel Temer disse ontem que o Brasil terá um Natal "belíssimo", com economia e comércio melhorando. Sim, o varejo saiu da tumba em meados do ano. Ainda assim, as vendas per capita do comércio caíram uns 12% no biênio 2015-2016. Neste ano, devem apenas se arrastar para fora do buraco, crescendo 1,5%, por aí. O que faz sucesso, porém, é a memória dos anos Lula e o ex-presidente fazendo picadinho das reformas e do governo Temer.
O povo está fulo. Para 60% do eleitorado, a situação econômica do país piorou, deu no Datafolha. Pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira mostra que 84% dos eleitores desaprovam o que Temer faz quanto ao desemprego; 85% desaprovam o que faz em relação a juros. Para 74%, seu governo é péssimo e, para 69%, assim será o restante de seu mandato.
Há reviravoltas rápidas na opinião política, claro, algumas lastreadas em estelionatos eleitorais (Cruzado, 1986), revertérios econômicos (FHC, 1995) e outras ainda misteriosas (Dilma, Junho de 2013). Do ponto de vista de hoje, na melhor das hipóteses a economia (PIB) vai estar rodando a um ritmo anual de 2,5%, mas com indicadores socioeconômicos ainda deprimidos. A rejeição das reformas liberais, contaminadas pelo temerismo, deve persistir.
Um candidato prudente do governismo e entorno deveria, vejam só, pensar no que vai e no que pode ir pela cabeça do povo. Há reviravoltas. Em dezembro de 1994, José Sarney e Paulo Maluf disputariam um segundo turno na eleição de 1995, à frente de FHC, o vitorioso. Em dezembro 2001, Ciro Gomes e Roseana Sarney vinham atrás de Lula, que enfim disputou e venceu o segundo turno de 2002 com José Serra.
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