- Folha de S. Paulo
Quem ainda acredita que o governo de Michel Temer terá viço político suficiente para aprovar a polêmica reforma da Previdência logo depois do Carnaval do próximo ano? O mercado e o empresariado mantêm-se sob a engabelação do Palácio do Planalto.
Cabe a Temer e aos presidenciáveis Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e Henrique Meirelles (Fazenda) preservar a isca pendurada enquanto for possível. Até lá, o mercado não derrete pra valer, as agências de classificação de risco hesitam em rebaixar a nota de crédito brasileira e os donos do PIB continuam a cobrar do Congresso a aprovação urgente da "mãe de todas as reformas".
Há um ano o governo temerista encaminhou ao Legislativo a proposta de mudanças nas regras de aposentadoria. Desde então –e entre as votações para barrar duas denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente–, fez várias concessões. Sucumbiu a lobbies, corrigiu exageros e reduziu a economia prevista com a reforma a 60% dos R$ 800 bilhões originais.
Entregou outros anéis. O generoso Refis permitirá que empresas devedoras deixem de pagar R$ 35 bilhões em 15 anos. A negociação de dívidas do Funrural fará evaporar R$ 15 bilhões, além de mais R$ 7,8 bilhões no Refis do Simples. A lista inclui a liberação de R$ 7,5 bilhões em novos gastos no Orçamento deste ano.
O alto custo fiscal para a aprovação da Previdência estende-se à agenda empacada no Congresso, o que poderá abrir um rombo de R$ 21 bilhões nas já deficitárias contas de 2018. Medidas como reoneração da folha de pagamento, adiamento de reajuste do funcionalismo e tributação de fundos de investimento foram relegadas e podem naufragar.
Enquanto a cúpula do próprio Planalto ostenta aposentadorias privilegiadas, a nova estratégia na reforma é transigir mais e ceder a servidores. Temer ganhará tempo e poderá alongar o martírio até novembro, pós-eleições. Quem ainda acredita?
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