Com julgamento em segunda instância marcado para o dia 24 de janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é a grande incógnita do pleito de 2018.
Caso sua candidatura venha a se inviabilizar numa eventual condenação, mostra-se por enquanto incerto o rumo eleitoral dos que se identificam com o petista.
A relativa carência de alternativas à esquerda na presente conjuntura se ilustra bem pelo fato de que, na pesquisa mais recente do Datafolha, um candidato associado a esse campo, Ciro Gomes (PDT), teria hoje apenas cerca de um terço dos votos de Lula, num cenário sem o ex-presidente.
Nessa ordem de especulações, sem dúvida prematuras, haveria entretanto a considerar que a enorme rejeição ao presidente Michel Temer (PMDB) abre possibilidades eleitorais consideráveis para quem quiser representar as forças que se opuseram ao impeachment.
Todavia, um aspecto relevante no atual clima eleitoral tende a relativizar tal raciocínio. Segundo Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, e Alessandro Janoni, chefe de pesquisas do mesmo instituto, seria impreciso dizer que o eleitorado se divide entre os que apoiam e os que rejeitam o lulismo.
Haveria um terceiro contingente, chamado de "grupo pêndulo", reunindo 31% dos brasileiros. Nesse grupo, os votos se dividem entre Jair Bolsonaro (PSC, 19%), Marina Silva (Rede, 13%), Ciro Gomes (12%) e Geraldo Alckmin (PSDB, 6%), além do próprio Lula (12%) e 24% de brancos e nulos.
De uma ótica abstrata, a identificação desse terceiro grupo representaria uma boa notícia, pelo que aponta no sentido de superar paixões e ressentimentos que marcaram a crise do impeachment.
Contudo, é inegável que alguns dos candidatos entre os quais se divide o grupo pendular ainda guardam, em seus perfis e discursos, o peso daquela cisão ideológica.
Basta notar a força, dentro desse segmento em tese moderado, das candidaturas de um Jair Bolsonaro ou de um Ciro Gomes, cujas profundas diferenças de espírito não elidem a comum propensão para o rompante desabrido.
Mais do que nunca, os votos parecem dirigir-se às pessoas, e não aos partidos. O PT não tem alternativa a Lula; Marina Silva flutua sobre uma Rede que mal existe; o PSC é nanico; de Ciro Gomes, poucos sabem a legenda; só Alckmin tem imagem menos forte que a de sua agremiação, de resto exangue.
Nesse quadro, se o resultado das eleições é imprevisível, ainda mais incertas serão as condições do eleito para formar sua base parlamentar. Um presidencialismo de coalizão fragilizado ao extremo? Eis uma eventualidade capaz de frustrar, de modo inquietante, as expectativas mobilizadas no pleito.
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