É uma coincidência feliz inflação e juros caírem enquanto a economia se recupera. Mas o cenário não terá vida longa se despesas continuarem a crescer de forma autônoma
Alcançar, pela primeira vez desde a instituição da política de metas, em 1999, uma inflação anual abaixo do limite mínimo do objetivo — 2,95%, aquém dos 3% do limite — garante para 2017 um destaque especial na história da economia brasileira.
Não é mesmo um fato de menor importância, considerando-se que, no final de 2016, a inflação havia retornado aos dois dígitos, ficando pouco acima de 10%, nível perigoso numa economia ainda com renitentes mecanismos de indexação.
As notícias positivas na economia vão além da taxa anual de 2,95% do IPCA, índice oficial da inflação, divulgado ontem pelo IBGE. Há toda uma conjuntura benigna, com a coincidência de diversos bons resultados.
A inflação baixa, para padrões brasileiros, coincide com um momento de recuperação da economia, refletida em diversos termômetros: da produção industrial, do movimento do comércio varejista etc.
E tudo ao mesmo tempo em que os juros caem. De 14,25% em julho de 2015, a taxa básica (Selic), administrada pelo Banco Central, chegou a 7% em dezembro, um mergulho tão radical quanto o da própria inflação. Registre-se: sem qualquer ingerência indevida do governo no BC, como aconteceu quando Dilma forçou a autoridade monetária (Tombini) a fazer um corte quase tão profundo como este. Por ter sido um movimento voluntarista, a inflação mudou de patamar, para cima, e o BC, mesmo a contragosto do Planalto, teve de soltar os juros. Como previsto.
Agora, acontece esta coincidência feliz de a economia crescer enquanto juros e inflação caem, sendo ainda possível que o BC faça mais um corte na Selic, na próxima reunião do Copom (Conselho de Política Monetária), no início de fevereiro.
Trata-se de outro abalo na crença heterodoxa de que é necessário um pouco mais de inflação para a economia crescer. Este é um dos fundamentos que levaram a economia brasileira à ruína, sob Lula e Dilma. Está provado que é o contrário: inflação baixa estimula o consumo familiar, também ajudado pelos juros civilizados.
Mas esta boa conjuntura tem à frente uma espessa área de incertezas, porque continua a insegurança sobre a reforma da Previdência e outras, diante de resistências do Congresso.
A miopia desta legislatura não enxerga que é impossível o país continuar a melhorar enquanto o Tesouro se mantiver rumo à insolvência. Os alertas têm sido feitos. O mais recente é a previsão aritmética de que a regra de ouro — o Tesouro não pode se endividar para arcar com despesas de custeio — será descumprida em 2019, se nada for feito para evitar o crescimento autônomo dos gastos obrigatórios, a maior parte do Orçamento.
Iniciar a reforma da Previdência é essencial para manter o bom momento da economia. Que pode mudar de uma hora para outra, caso continue a leniência de parte do Congresso.
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