quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Meirelles decide não rivalizar agora com Maia

Ministro da Fazenda vai ignorar ações do presidente da Câmara na disputa por candidatura da base governista

Martha Beck, Cristiane Jungblut / O Globo

-BRASÍLIA- O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, decidiu não reagir aos ataques feitos pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que partiu abertamente para a disputa pelo posto de principal candidato da base governista à Presidência. Segundo interlocutores do ministro, Maia está adotando como estratégia política buscar um adversário e chamá-lo para brigar. Por isso, a melhor forma de agir é não alimentar essa tática.

— Maia está atrás de um adversário, está chamando para briga. Ele tem que bater em alguém, mas esse não é o estilo do Meirelles. O ministro vai continuar com o mesmo discurso — disse uma fonte próxima ao ministro.

O aumento da temperatura entre Meirelles e Maia ficou claro no debate sobre mudanças na chamada “regra de ouro” — pela qual o governo não pode se endividar para pagar despesas correntes. Por causa da crise nas contas públicas, na semana passada, a equipe econômica chegou a começar a discutir ajustes na “regra de ouro”, na casa de Maia, com o deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ), que trabalha numa Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para reduzir o engessamento do orçamento no país.

No entanto, logo em seguida, Meirelles disse que o ideal não seria flexibilizar a regra. Maia interpretou isso como uma tentativa da equipe econômica de jogar o assunto no colo do Congresso e afirmou publicamente que não colocaria nenhuma alteração na “regra de ouro” em votação. O presidente Michel Temer teve que chamar Meirelles e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, ao Planalto para acalmar os ânimos. E para evitar mais problemas, o tema foi adiado para depois da reforma da Previdência.

Para desgastar Meirelles, o presidente da Câmara também tem dito a interlocutores que o titular da Fazenda deveria se dedicar à sua função de comandar a economia e não perder o foco com a agenda política. Ele também teria classificado Meirelles como um político “analógico”, quando o Brasil precisa de um político “digital”, com capacidade de se comunicar com jovens.

No entanto, os interlocutores do ministro lembram que o próprio Maia, apesar de jovem, também não tem um discurso moderno que possa empolgar o eleitorado jovem. Além disso, afirmam essas fontes, Meirelles e o presidente da Câmara estão presos ao mesmo discurso econômico. Além de estarem, como possíveis candidatos, num mesmo patamar: flutuando com cerca de 1% das intenções de voto.

— Os dois nadam na mesma raia. Ambos precisam trabalhar, cada um em sua área, pela aprovação da reforma da Previdência, por exemplo — disse um técnico da área econômica.

Segundo essa fonte, Maia, que gosta de se colocar como um nome do mercado financeiro, vai se empenhar ainda mais pela aprovação da reforma da Previdência na Câmara. Isso poderia favorecer o avanço da agenda econômica e o próprio Meirelles.

— Esse discurso do Maia pode até ser bom para o Meirelles, que conseguirá avançar na agenda de reformas — afirma o técnico.

Caso Meirelles opte por não sair candidato, os interlocutores do ministro dizem que ele vai ficar no comando da Fazenda até 31 de dezembro.

— Se não for candidato, ele vai ficar no cargo e poderá sair do governo se colocando como o ministro que tirou a economia da recessão, que aprovou o teto para os gastos públicos, a reforma trabalhista e provavelmente a reforma da Previdência — diz um aliado do ministro.

Com a pré-candidatura assumida, Maia faz uma maratona de reuniões com os partidos do chamado centrão e com integrantes do mercado financeiro para se viabilizar com o candidato desses dois setores, rivalizando com Meirelles diretamente, e inclusive com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Maia age em duas frentes: aumentou suas viagens pelo país e deve reforçar sua equipe, inclusive de comunicação.

Nas conversas, Maia diz que está “entusiasmado” e que seu nome é “para valer”. Nos próximos dias, Maia vai reforçar seu discurso na área econômica. Egresso do mercado financeiro, a agenda do presidente da Câmara é recheada por encontros com investidores e presidentes de empresas. A ideia, segundo um aliado, é reforçar conversas com grandes nomes da economia. Um dos interlocutores frequentes é o economista Marcos Lisboa.

“QUALQUER CANDIDATO É MELHOR QUE MEIRELLES”
Próximo a Maia, o ministro da Educação, Mendonça Filho, destacou a linha de atuação do aliado como um ativo para torná-lo o nome do DEM.

— Precisamos da reforma da Previdência, de uma agenda econômica, e o Rodrigo lidera isso no Parlamento — disse Mendonça Filho ao GLOBO.

O deputado Paulo Pereira da Silva, do Solidariedade, resumiu a ideia de ter um nome do centrão que não seja Meirelles.

— Qualquer candidato é melhor do que o Henrique Meirelles — brincou.

Nos últimos dias, Maia e o prefeito de Salvador, ACM Neto, que era visto até recentemente como a grande liderança jovem do DEM, acertaram uma estratégia: Maia será o candidato do partido à Presidência, ACM assumirá o comando do DEM em fevereiro e deverá concorrer ao governo da Bahia em outubro.

ACM Neto tem ido a Brasília semanalmente para traçar as estratégias com Maia. O prefeito baiano está ajudando a montar uma equipe de comunicação, da Bahia mesmo, para reforçar a campanha de Maia. A avaliação é que Maia precisa ser mais reconhecido nacionalmente e que uma vantagem é não ter rejeição.

No momento em surgem outras alternativas para ocupar o espaço de candidatos de centro, por onde tenta se viabilizar, o governador Geraldo Alckmin marcou presença no cenário político em Brasília, na terça-feira, e teve um dia típico se pré-candidato. Assumiu a cadeira de presidente nacional do PSDB, conversou longamente com jornalistas — contrariando seu estilo de falar pouco — e anunciou, para a semana que vem, a divulgação dos integrantes de sua equipe de elaboração do plano de governo.

O governador deve acelerar também a divulgação do esboço do programa de governo. Segundo os interlocutores de Alckmin, ele tem conversado com economistas, entre eles Armínio Fraga e Eduardo Giannetti. O nome apontado como provável coordenador da equipe é Persio Arida, um dos formuladores do Plano Real. (Colaborou Maria Lima)

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