Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Em uma tentativa de mostrar sintonia com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem que o Brasil precisa de uma candidatura à Presidência da República na eleição deste ano que unifique o país. Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o tucano garantiu que o PSDB será protagonista neste processo de agregar outras forças políticas.
A declaração de Alckmin foi uma resposta a FHC, que em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo, reconheceu a possibilidade de os tucanos apoiarem outro nome na disputa presidencial, caso o governador não consiga unir os partidos de centro em torno de uma candidatura única. O presidenciável, contudo, evitou polemizar ao ressaltar que os dois tucanos compartilham a mesma opinião.
"O presidente Fernando Henrique disse uma coisa que eu concordo. O Brasil está cansado de divisão. Precisamos unir o Brasil. Vamos trabalhar para unir o país em torno de um projeto. É isso que ele defende e nós defendemos. O PSDB será protagonista neste trabalho de poder unir o país para retomar o crescimento", afirmou o governador em entrevista no Palácio dos Bandeirantes.
Diante da repercussão negativa no ninho tucano, FHC divulgou nota para reforçar o apoio a Alckmin, que trava uma disputa interna no PSDB pela vaga de candidato a presidente com o prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio. No centro, no entanto, ainda são especuladas as candidaturas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Segundo Alckmin, é natural que nesta altura da corrida eleitoral surjam outras potenciais candidaturas à Presidência da República. "Ninguém vai dizer que não tem candidato em janeiro. Isso é um processo que vai maturando", afirmou o governador, que admitiu, por outro lado, não ser possível "unir todo mundo", considerando que existem 28 partidos representados na Câmara.
O governador paulista defendeu para o país uma agenda "reformista e de competitividade". Ao ser questionado se teria o perfil mais adequado para a eleição presidencial, levando em conta a avaliação de FHC, de que a disputa eleitoral deste ano exige candidatos que saibam se comunicar, Alckmin disse que elogio em "boca própria é "vitupério" e que sua humildade não permitia isso.
Mesmo assim, aproveitou a deixa para fazer um contraponto a Maia e Meirelles, embora não os tenha citado. "Não sou fruto nem dinastia política e nem de riqueza pessoal. Sou fruto do povo. Com 25 anos de idade estava periferia da minha cidade natal trabalhando junto com a população, com o povo". Maia é filho do ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), enquanto Meirelles presidiu bancos.
O presidenciável tucano lembrou sua última reeleição, em 2014, quando venceu em 644 dos 645 municípios do Estado, e uma frase do ex-governador Mário Covas (falecido em 2001), que diz que o "povo erra menos do que as elites", para justificar sua imagem de homem do povo. "Acredito muito no julgamento das pessoas. Precisamos levar a elas todas as informações".
As declarações foram feitas após o tucano anunciar um reajuste salarial de 3,5% a todas categorias do funcionalismo público do Estado, com exceção dos professores e policiais, que tiveram um aumento maior, de 4% e 7%, respectivamente. Com isso, o piso do funcionalismo passa a ser de R$ 1.142,64. A medida ainda precisa ser aprovada pela Assembleia Legislativa, mas vale a partir do dia 1º de fevereiro.
Trata-se do primeiro reajuste realizado pelo governador desde 2015, quando iniciou o segundo mandato. Aprovado pelos deputados, o reajuste será retroativo ao primeiro dia do mês e beneficiará aproximadamente 1 milhão de servidores públicos no Estado, incluindo aposentados e pensionistas. O impacto nos cofres públicos será de R$ 2,4 bilhões no orçamento de 2018.
Alckmin atribuiu a defasagem salarial no funcionalismo público à queda da arrecadação nos últimos três anos em meio a um cenário de crise econômica. Admitiu ainda que o reajuste não compensa a inflação acumulada no período, de 20,7%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), mas que o aumento representa um esforço fiscal do governo "para fazer justiça aos servidores".
"São Paulo está com as contas em dia, pagando rigorosamente os salários. Nunca houve aqui um atraso. Antecipamos o 13º [salário] para o dia 15 e agora anunciamos a recomposição salarial dentro dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal", frisou o tucano ao negar que o reajuste seja um benesse por conta do ano eleitoral.
"A verdade sempre prevalece. Não podíamos dar reajuste com a arrecadado em queda. Se aumenta gasto e cai a receita, vai quebrar. O Estado, diferente do governo federal, não pode ter deficit", explicou o tucano.
O reajuste salarial ao funcionalismo foi anunciada na semana que antecede o aumento de R$ 3,80 para R$ 4,00 na tarifa do transporte público.
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