- Folha de S. Paulo
Não é de hoje que prefeitos em início de mandato apostam no poder dos factoides. Nos anos 90, o carioca Cesar Maia se revelou um mestre na arte. Varreu o Sambódromo, foi à praia de casaco e pediu picolé no açougue. Valia até se fingir de maluco para chamar a atenção e ocupar espaço nos jornais.
O paulistano João Doria investiu na mesma cartilha. Na semana de estreia, pendurou o cashmere e se fantasiou de gari. Depois posou cortando grama, pintando muros de cinza e deslizando numa cadeira de rodas. Tudo marketing para aparecer e caçar likes nas redes sociais.
O porto-alegrense Nelson Marchezan Júnior não quer ficar atrás. Assíduo no Facebook, ele alterna postagens de autoajuda com registros do seu café da manhã. Já postou até foto de jantar requentado, com a legenda "vida de prefeito solteiro é assim". Pela quantidade de curtidas, deve ter alcançado o resultado desejado.
Nesta quinta, o tucano lançou um factoide menos inofensivo. Em papel timbrado, ele pediu o envio de tropas do Exército e da Força Nacional à capital gaúcha. O pretexto: combater o "perigo à ordem pública" durante o julgamento do ex-presidente Lula.
O prefeito alegou a "ameaça de ocupação de espaços públicos municipais" e o risco de "desobediência civil e luta". O exagero incomodou até o governo Temer, insuspeito de simpatizar com o petismo. O ministro da Defesa precisou esclarecer que o pedido é "impossível" e "ilegal".
Marchezan Júnior já sabia disso, mas fabricou a notícia para marcar pontos com o eleitorado conservador. Pupilo do MBL, ele aposta no discurso agressivo para cativar a clientela. É seu direito, mas apelar ao Exército só serve para semear a violência.
A Constituição assegura o direito à manifestação pacífica em locais públicos. Dentro desse limite, quem torce contra ou a favor de Lula é livre para expressar sua opinião. Filho de um político ligado à ditadura, o tucano deveria buscar formas mais democráticas de se promover.
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