- Folha de S. Paulo
Michel Temer chegou ao Planalto e se segurou no cargo porque representava um projeto de poder coletivo, com uma agenda econômica que interessava a atores de peso. A operação policial desta quinta (29), porém, atingiu o presidente de maneira tão cirúrgica que ele corre o risco de ficar isolado na luta pela própria sobrevivência.
A prisão de amigos próximos de Temer e o avanço do inquérito de corrupção no setor portuário devem transformar seus planos políticos e a Presidência da República em meros instrumentos de preservação pessoal. O foco está claramente direcionado a seu gabinete e poucos aliados parecem dispostos a assumir a linha de frente para protegê-lo.
De saída, o caso enfraquece ainda mais a já duvidosa candidatura à reeleição de Temer. Ele argumentava que deveria entrar em campanha para ganhar um foro extra de defesa contra o que chama de perseguição à classe política. O cerco, entretanto, se fechou com tal intensidade que até seus auxiliares admitem a dificuldade em obter apoio de outros partidos para essa empreitada.
Seu poder como presidente também sofre um baque imediato. O governo precisará direcionar praticamente todo o seu empenho à blindagem de Temer. Restará pouco capital político para fazer avançar qualquer pauta relevante no Congresso.
Existe ainda o risco de apresentação de uma nova denúncia pela Procuradoria-Geral da República, com o possível afastamento do presidente. O ambiente, agora, é mais desfavorável para Temer: em uma batalha tão pessoal como esta, diminui o espírito de corpo que uniu a base governista em sua defesa em outras ocasiões.
Ainda que o presidente sobreviva, os nove meses finais de seu mandato podem ser cambaleantes. Cargos, verbas e emendas devem ser suficientes apenas para manter o Planalto respirando por aparelhos. O plano de Temer de preservar um legado e exercer influência sobre sua sucessão parece cada vez mais distante.
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