- O Globo
Ação fechando o cerco a Temer revigora o ânimo republicano da sociedade. Num momento em que os fatos parecem confluir para uma grande aliança suprapartidária, não para uma união em torno da busca do diálogo para desarmar literalmente as mãos, e os espíritos, mas para um acordão para a manutenção do status quo que garanta a impunidade, a ação fechando o cerco em torno do presidente Michel Temer revigora o ânimo republicano da sociedade, que clama por demonstrações de Justiça.
Não é preciso ser um especialista para entender que tantos presos em torno do presidente da República significam que há provas suficientes para uma ação policial dessa envergadura. Todos os homens do presidente estão envolvidos, de uma maneira ou de outra, em investigações policiais.
Um terceiro processo contra Michel Temer parece claramente delineado, ainda mais porque foi a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, quem pediu as prisões, que não seriam autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso se não houvesse bons motivos. E um bom motivo poderia ser uma delação premiada do ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, aquele da mala de R$ 500 mil, que estranhamente não está entre os presos ontem.
Quase impossível imaginar que se trate de um equívoco, ou uma perseguição política, ou um malabarismo jurídico, como classificou o próprio Temer, tentando mostrar-se publicamente calmo. Mas é impressionante como o passado não perdoa Temer e seus associados.
As denúncias feitas, e a que provavelmente será apresentada à presidência da Câmara a partir dessas investigações, se referem a atos no exercício da Presidência da República, mas estão ligados à prática política de uma vida toda.
A foto do coronel Lima fardado na posse do jovem Michel Temer na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo é exemplar. Se vier, porém, um novo pedido para processar o presidente da República, deve ter o mesmo destino dos anteriores, pois, no final do mandato, abandoná-lo não representaria ganho político para sua base, logo no início da campanha eleitoral.
Há quem, no entorno do deputado Rodrigo Maia, considere que esta é uma oportunidade de ouro para ele, que poderia concorrer à Presidência da República como presidente interino, eleito indiretamente pela mesma maioria que condenaria o presidente Temer. Seria um desfecho surpreendente e lamentável, um vice-presidente sucedendo a outro, numa demonstração explícita da decadência da democracia brasileira.
Mesmo que isso não aconteça, o dano político está feito, Temer entra na eleição (se entrar, o que fica cada vez mais distante) sem a menor condição de ser um participante competitivo, e nem mesmo os partidos da base do governo se dispõem a defendê-lo. Mais um problema para a tentativa de encontrar um candidato de centro que se contraponha às posições extremas.
É possível também antever que o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, desista de sua aventura presidencialista, pois além de não ter grandes chances por representar um governo desmoralizado, teria que entrar no PMDB, um partido também marcado pela acusação de corrupção em todos os níveis e em diversos estados.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na busca de uma posição que neutralize a ascensão visível de Jair Bolsonaro, deu uma de radical como primeira reação ao denunciado atentado contra a caravana de Lula: “O PT colhe o que plantou”. Nada parecido com Bolsonaro simulando um tiro na cabeça de um boneco de Lula presidiário, mas uma tentativa desastrada de mostrar-se capaz de enfrentar o ex-presidente.
Recuou depois, voltando ao simulacro de estadista. Mas, infelizmente, o eleitor parece não estar em busca de estadistas. E se estivesse, nem com a lanterna de Diógenes encontraria um entre nossos homens públicos. Os que posam de tal, como Temer e o próprio Alckmin, não correspondem ao perfil, nem têm liderança que o país necessita neste momento.
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