- O Globo
A trama parece repetir o escândalo Collor, com o coronel Lima no lugar de PC. A prisão dos amigos do presidente deu início a uma nova contagem regressiva em Brasília. O Congresso e o Planalto já esperam uma terceira denúncia contra Michel Temer. Desta vez, ele deve ser acusado de chefiar um esquema de corrupção no setor portuário.
O ministro Luís Roberto Barroso apontou indícios “fortíssimos” de que a quadrilha operava havia mais de 20 anos. Sua base era o porto de Santos, onde o presidente exerce notória influência desde o governo FH. Em 1999, Antonio Carlos Magalhães avisou: “Se abrirem um inquérito sobre o porto de Santos, Temer ficará péssimo”.
Já estavam na cadeia políticos próximos do peemedebista, como Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima. Agora chegou a vez do entorno pessoal de Temer. Ontem ele assistiu à prisão de três escudeiros fiéis, todos acima dos 70 anos de idade.
O coronel João Baptista Lima é suspeito de recolher propina para cobrir gastos de campanha e despesas da família presidencial. Foi a sombra de Temer desde que ele entrou na política, na década de 1980.
O primeiro-amigo José Yunes é apontado como o administrador dos recursos. Ele já perdeu o gabinete no palácio, mas nunca se afastou do poder. Completa a trinca Wagner Rossi, ex-ministro e ex-presidente da estatal que controla o porto de Santos.
Segundo o ministro Barroso, a investigação revelou um esquema de arrecadação “para fins pessoais e eleitorais”. Sua decisão cita o “pagamento de altos valores em espécie” para bancar a reforma da casa de uma das filhas de Temer.
A trama parece repetir o escândalo PC farias, com o coronel no papel do tesoureiro de Collor e a residência no Alto de Pinheiros no lugar da Casa da Dinda.
A nova contagem regressiva começou em clima de ansiedade. A primeira questão é saber quanto tempo a Procuradoria levará para apresentar a terceira denúncia. Se a flecha chegar à Câmara até julho, a possibilidade de afastamento do presidente passará a ser real.
Em fim de mandato, Temer tem pouco a oferecer aos parlamentares que o salvaram duas vezes. Ele também perdeu a blindagem do mercado, que deixou de acreditar na conversa das reformas. O deputado Rodrigo Maia assiste ao jogo no banco de reservas, e já trocou o uniforme de aliado pelo de candidato.
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