Operação sobre venda de facilidade para concessionárias em portos não visa diretamente ao presidente, mas atinge pessoas do seu círculo próximo
Mais uma ação anticorrupção passa próximo ao presidente Michel Temer, com a Operação Skala, deflagrada ontem pela Polícia Federal, liberada pelo ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Temer é citado em inquérito que investiga a possibilidade da venda de facilidades, pagas em propinas, na regulação de concessões portuárias, definida em decreto. Nada até agora está provado contra ele. A operação é parte deste contexto.
As investigações visam a negócios no Porto de Santos, com a participação da Rodrimar e da Libra, duas concessionárias, que tiveram representantes presos ontem entre os 13 mandados de prisão expedidos para a PF.
Barroso, em fevereiro, já quebrara o sigilo bancário do presidente da República. A ação da PF e do Ministério Público atingiu um círculo próximo a Temer, o que, por inevitável, deu grande relevância política à operação. Além do ex-ministro da Agricultura, com Dilma, Wagner Rossi, do MDB, ex-dirigente da empresa que administra o porto, foram detidos José Yunes e João Baptista Lima Filho, o “coronel Lima”, da reserva da PM paulista, muito próximo a Temer, seu braço-direito.
O caso do “decreto dos Portos”, já conhecido, tem, ainda, a participação do ex-deputado emedebista Rodrigo Rocha Loures, o homem da corrida pelas ruas de São Paulo com a mala em que estavam R$ 500 mil, supostamente para Temer.
Rocha Loures, nas investigações, é suspeito de mediar entendimento entre o Planalto e donos da Rodrimar, em torno da edição de medidas legais que ajudassem a concessionária. Ele também aparece em lugar de destaque na conversa imprópria de Joesley Batista, da JBS, com Temer, gravada pelo empresário nos porões no Palácio do Jaburu.
Yunes, assessor pessoal do presidente, foi citado, por sua vez, em delação premiada do exexecutivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, sobre a remessa de dinheiro da empreiteira que terminaria com o operador financeiro Lúcio Funaro, prestador de serviços ao ainda PMDB. Também em acordo de colaboração premiada, Funaro afirmou que apanhara com Yunes R$ 1 milhão, que seria de Temer. Já Yunes declarou ter sido uma “mula involuntária”, a pedido do ministro Eliseu Padilha.
A Operação Skala passa pelas vizinhanças do presidente no momento em que ele tenta viabilizar a candidatura à reeleição, em outubro. Deve ficar mais difícil ainda. Porém, comprova-se ter sido errada a avaliação feita por alguns em maio do ano passado, quando a conversa não republicana entre Temer e Joesley foi em parte divulgada pelo GLOBO. A melhor alternativa teria sido mesmo a renúncia. Houve resistências, alguns iludiram-se que a preservação dele garantiria a reforma da Previdência. Mas era o contrário, dada a vulnerabilidade do presidente. Agora comprovada.
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