Por Vandson Lima e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - Na primeira reunião partidária da qual participou, com parlamentares e a cúpula do PSB, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, cotado para concorrer à Presidência, disse que ainda está bastante resistente à ideia de ser candidato. "Ainda não consegui convencer a mim mesmo de que devo ser candidato". Perguntado se não desejava ser presidente do país, respondeu direto: "Não sei se quero."
Ao chegar à sede do partido, Barbosa deparou-se com um grupo ligado ao movimento negro da legenda, que o aguardava com bandeiras e pétalas de rosas amarelas e vermelhas, cores do partido, espalhadas pelo caminho. Pegou a entrada oposta do prédio. "Estou atrasado", justificou.
Ele disse que o caminho para se lançar à Presidência pelo PSB não está construído. "Há dificuldades dos dois lados: o PSB tem suas dificuldades de ordem regional e eu tenho minhas dificuldades de ordem pessoal". A família, admitiu, é contra a candidatura. "Digamos, não é a favor".
O resultado na pesquisa Datafolha - terceiro lugar e até 10% de intenções de voto, conforme a simulação - deixou Barbosa satisfeito. "Para quem não frequenta a cena política, foi bom." Perguntado, contudo, da sua posição em um tema espinhoso como a reforma da Previdência, voltou a recuar. "Não sou candidato ainda." Sobre o possível prejuízo à sua viabilidade eleitoral, caso demore demais a se colocar candidato, Barbosa apenas respondeu: "Who cares [quem se importa, em inglês]?"
Governadores filiados à sigla que falaram à imprensa na saída do encontro, como Márcio França (São Paulo) e Ricardo Coutinho (Paraíba) também não mostraram ânimo com a candidatura.
França disse que ainda vê a pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), a quem substituiu no governo paulista, como a mais madura para o momento vivido pelo país. "No meu ponto de vista, a opção do Alckmin é a mais madura que existe para o Brasil. Barbosa ainda não falou que quer ser candidato. Nunca falou isso. Eu não senti nele nenhuma pressa em tomar essa decisão", disse.
Já Coutinho, da ala do PSB mais próxima do ex-presidente Lula, ressaltou que, mais importante que lançar um candidato, é a sigla participar da formação de uma frente democrática que garanta a realização das eleições e a pacificação do ambiente político. "Eu penso que, para essa situação do país, de aumento da intolerância, deveríamos construir um programa mínimo para juntar forças e ganhar as eleições", apontou.
Na segunda-feira, presidentes de todos os partidos de centro-esquerda e esquerda, inclusive o do PSB, Carlos Siqueira, assinaram um documento em que denunciaram no país "um preocupante surto autoritário". Condenaram a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada no dia 7, "para a qual contribuíram diferentes operadores de direito que priorizaram clamores orquestrados por parte da opinião publicada". Disseram ser "urgente um maior diálogo entre todos os setores sociais comprometidos com a liberdade, a democracia e os direitos sociais" para "articular a resistência democrática aos atentados contra a democracia e o estado de direito".
Neste sentido, os dirigentes pediram a formação "de uma ampla frente social", que não terá finalidades eleitorais, mas que "buscará estimular um amplo debate nacional contra o avanço do ódio, da intolerância e da violência". Além de Siqueira, o documento foi assinado ainda por Gleisi Hoffmann (PT), Carlos Lupi (PDT), Juliano Medeiros (Psol), Luciana Santos (PCdoB) e Rui Costa Pimenta (PCO), todos presidentes de siglas que devem disputar a Presidência.
Já o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg reforçou que Barbosa ainda está no processo de se decidir sobre a eventual pré-candidatura. "Ele será a grande novidade no processo se decidir ser candidato. No nosso entendimento, ele reúne todas as qualidades que o país precisa", elogiou, acrescentando que não foi definido nenhuma data limite para Barbosa oficializar seu nome na disputa pelo comando do Palácio do Planalto.
Carlos Siqueira afirmou que o partido terá meses para construir a eventual candidatura, mas ponderou que a sigla continuará neste meio tempo conversando com outros partidos. "Quem tem prazo não deve ter pressa. Esse primeiro encontro será importante para criar uma sinergia para colocarmos mais tijolos para construirmos essa candidatura", avaliou.
Ele descartou que Barbosa possa compor a chapa de outro candidato como vice-presidente. "Nós não convidamos Joaquim Barbosa para o PSB para ser vice de ninguém. Quem tiver essa esperança, pode se desfazer dela porque isso não vai acontecer. Queremos ele na cabeça de chapa", disse.
Para Siqueira, não há divisões tão evidentes no PSB em relação à eventual candidatura de Barbosa. "Não concordo que há tanta divergência. Apenas cuidados e interrogações. Ninguém disse a mim que não concorda com a candidatura de Barbosa. O potencial dele é bem maior do que a pesquisa mostrou. Vai ajudar a eleger mais deputados e contribuir para o êxito dos palanques estaduais".
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