Por Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO - A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou ontem dois documentos com orientações aos católicos para as eleições, como o voto em candidatos ficha-limpa e a rejeição a postulantes que tentam se eleger para obter foro privilegiado. A entidade defende também que os fiéis católicos não votem em candidatos que adotem planos econômicos que privilegiem o lucro em detrimento ao combate à desigualdade social, mas destaca que não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político.
As duas mensagens foram apresentadas pelos bispos em Aparecida (SP), durante a 56ª Assembleia Geral da CNBB, que começou dia 11 e terminará hoje.
No texto intitulado "Eleições 2018: Compromisso e Esperança", a entidade diz que são "reprováveis" as candidaturas motivadas pela busca do foro privilegiado e outras vantagens. A CNBB afirma também que "não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo" e "nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade".
A entidade católica afirma que não se deve "abrir mão de princípios éticos" e diz que é preciso fazer valer as regras de lisura do processo eleitoral, votando em candidatos que não tenham a ficha-suja.
Em 2010, a CNBB foi uma das principais apoiadoras do projeto da Lei da Ficha Limpa e coletou milhares de assinaturas para a proposta, apresentada como uma iniciativa popular. O projeto foi sancionado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e torna inelegível quem foi condenado em decisão proferida por órgão judicial colegiado.
Com base nessa lei, o ex-presidente Lula, preso desde o dia 7, deve ter sua candidatura presidencial inviabilizada, apesar de liderar todas as pesquisas de intenção de voto. O ex-presidente foi condenado em segunda instância no processo do tríplex do Guarujá (SP), acusado de cometer os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
A entidade faz críticas indiretas à gestão Michel Temer, ao registrar que o país enfrenta a perda de direitos e de conquistas sociais, "resultado de uma economia que submete a política aos interesses do mercado, tem aumentado o número dos pobres e dos que vivem em situação de vulnerabilidade". No ano passado, a CNBB já havia divulgado uma nota bastante crítica às reformas trabalhista e da Previdência apresentadas por Temer.
No documento divulgado ontem, os bispos alertam os fiéis para que tenham cuidado com as "fake news", que causam "graves prejuízos à democracia".
No outro texto apresentado pela CNBB, endereçado ao "povo de Deus", a CNBB diz que "não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político".
"As ideologias levam a dois erros nocivos: por um lado, transformar o cristianismo numa espécie de ONG, sem levar em conta a graça e a união interior com Cristo; por outro, viver entregue ao intimismo, suspeitando do compromisso social dos outros e considerando-o superficial e mundano".
A seis meses das eleições, a entidade afirma também que "não pode ser responsabilizada por palavras ou ações isoladas" de padres e bispos católicos "que não estejam em sintonia com a fé da Igreja, sua liturgia e doutrina social".
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