Só uma surpresa muito ruim, talvez associada às incertezas políticas, poderá impedir novo corte dos juros em maio, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Se os preços pagos pelas famílias continuarem evoluindo moderadamente, como até março, a taxa básica de juros deverá cair de 6,50% para 6,25% ao ano. Isso dará mais um impulso ao consumo, mais fôlego financeiro às empresas e alguma folga adicional ao Tesouro, reduzindo o custo de sua dívida. A inflação mensal diminuiu de 0,32% em fevereiro para 0,09% no mês passado.
A variação acumulada no ano, de 0,70%, foi a menor para um primeiro trimestre desde a implantação do Plano Real, em 1994. O ritmo mensal também foi o menos intenso para um mês de março, desde o grande esforço de estabilização iniciado há 24 anos. Os dados são do histórico do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta do índice em 12 meses passou de 2,84% no período até fevereiro para 2,68% naquele encerrado em março. Ficou ainda mais longe, portanto, do limite inferior de tolerância, de 3%. O chamado centro da meta é de 4,5%, com variação admitida de 1,5 ponto para mais ou para menos. A meta central cairá para 4,25% em 2019 e 4% em 2020.
Inflação baixa beneficia diretamente a maior parte das famílias, porque o poder de compra de seus ganhos é preservado por mais tempo. O IPCA é baseado no orçamento médio das famílias com ganho mensal de 1 a 40 salários mínimos. Mas os mais pobres, com renda mensal de 1 a 5 salários básicos, têm sido proporcionalmente mais beneficiados.
A inflação relevante para esse grupo, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), ficou em 0,07% em março, 0,48% no ano e 1,56% em 12 meses. Também neste caso a taxa mensal e a acumulada no ano foram as mais baixas desde o início de execução do Plano Real.
Longe de ser um entrave à recuperação econômica, o esforço de combate à inflação tem contribuído para a retomada do crescimento. Com os preços contidos, o comitê de política do Banco Central (BC) teve espaço para reduzir os juros com segurança, proporcionando algum alívio financeiro às empresas. Os juros ao tomador final caíram menos que os básicos, mas, de toda forma, houve um recuo. Além disso, inflação baixa e crédito mais acessível ao consumidor facilitaram o retorno das famílias às compras e animaram até as vendas de bens duráveis de maior valor comercial.
Outra novidade significativa é a redução da distância entre a inflação brasileira e a das potências comerciais mais importantes. Em fevereiro, ficou em 2,2% a inflação anual média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada principalmente por países desenvolvidos e alguns emergentes com fundamentos normalmente sólidos.
No mesmo período, as taxas de inflação do Grupo dos 20 (G-20), um conjunto muito mais diversificado que a OCDE, ficaram entre os 2,2% da Rússia e os 25,4% da Argentina, passando pelos 4,7% da Índia. Com seus 2,8%, o Brasil apareceu nesse quadro como um país de condições monetárias firmes e confiáveis.
Se a comparação envolvesse o ritmo de crescimento econômico, a posição brasileira ainda seria muito modesta. Mas a perspectiva de expansão entre 2,5% e 3% neste ano, com inflação baixa, é razoável, depois de dois anos de recessão. O maior desafio, nesta altura, é criar condições para taxas de expansão mais parecidas com as de países emergentes mais dinâmicos, nos próximos anos.
As condições necessárias a um crescimento maior, incluído o investimento em máquinas, equipamentos, instalações empresariais e obras de infraestrutura, dependerão da segurança quanto à evolução do cenário político e dos fundamentos econômicos.
Fatores externos, como os juros e a geopolítica, também poderão afetar a economia brasileira. Resta aos brasileiros tornar o País menos vulnerável a choques internacionais. A fórmula é evidente: ter juízo e cuidar dos ajustes e reformas.
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