Para ex-ministro, sem Lula, nome não seria necessariamente do PT
Sérgio Roxo e Gustavo Schmitt | O Globo
-CURITIBA- Cotado como plano B do PT, o ex-ministro Jaques Wagner defende que a legenda se junte a uma frente de partidos “progressistas” com um candidato único, caso Lula seja impedido de concorrer à Presidência da República. Nesse cenário, o nome para encabeçar a chapa não seria necessariamente um petista, e a escolha só ocorreria às véspera do prazo legal, em agosto, depois da consolidação de um programa de governo comum. Wagner tenta convencer a direção do PT a aderir à ideia, mas enfrenta forte resistência.
— Em todas as conversas com a direção do partido, tenho dito que não é hora de discutir nomes. É hora de discutir plataforma que unifique o campo progressista. É isso que vai dar força para a gente. O nome é uma consequência da força dessa plataforma — disse o ex-governador, ao visitar ontem o acampamento montado por apoiadores de Lula, na frente da sede da Superintendência da Polícia Federal no Paraná, onde o ex-presidente está preso.
De acordo com Wagner, se o ex-presidente Lula puder ser candidato, ele encabeçaria a frente:
— Se o Lula sair, é inevitável que ele centralize a maioria desse campo.
Inicialmente, Wagner disse que falar em plano B é trabalhar para “os adversários e concordar com a interdição de Lula”. Mas, em seguida, ele traçou um panorama sobre o cenário em que o expresidente seria impedido de concorrer por causa da Lei da Ficha Limpa. Para ele, nesse caso, o PT não pode ter a pretensão de obrigatoriamente encabeçar o bloco de aliados.
— Sou daqueles que defende que se você tem uma frente, não pode dizer que só eu tenho direito de puxar essa frente.
O governador da Bahia, Rui Costa, aliado de Wagner, já havia afirmado, antes da prisão de Lula, que o PT deve cogitar um candidato de outro partido se o ex-presidente for impedido de concorrer. Reservadamente, outras lideranças também reconhecem que esse seria um caminho a ser discutido, mas a posição é minoritária entre os caciques petistas.
— Estive com o Jaques Wagner e a posição dele é a mesma do partido, de reafirmação da candidatura de Lula — minimizou Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, depois de divulgada as declarações do ex-ministro.
Outro nome cotado como plano B do PT, o ex-prefeito Fernando Haddad, ao visitar ontem o acampamento, também aderiu ao discurso oficial de defesa da candidatura de Lula.
— O PT só aposta no presidente Lula. Não há outra discussão no partido — disse Haddad, que, nas últimas semanas, se consolidou como principal alternativa ao ex-presidente na legenda, apesar de ainda enfrentar resistências.
Jaques Wagner citou os pré-candidatos Manuela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT) como possíveis cabeças da chapa da frente progressista:
— A escolha do nome vai depender de uma conjuntura que ninguém consegue traçar hoje.
Apesar da declaração do ex-ministro, petistas reconhecem que dos três, o único nome com experiência para liderar uma chapa competitiva é Ciro. O problema é que a postura do pré-candidato do PDT no episódio da prisão de Lula tem provocado perplexidade. Ele não foi ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nos dois dias em que o ex-presidente ficou no local, na semana passada, e não esteve em Curitiba, como já fizeram Manuela e Boulos.
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