- Folha de S. Paulo
Prisão do petista dilui debate sobre corrupção e amplia rejeição à classe política
A prisão de Lula a seis meses da corrida presidencial tornará o debate sobre corrupção mais difuso na campanha deste ano. Sem o principal vilão, as acusações devem se diluir entre personagens de diversos partidos, fazendo com que plataformas antissistema e a rejeição à classe política ganhem espaço na disputa pelo eleitor.
De um lado, o encarceramento do ex-presidente atenua os ganhos dos candidatos que exploravam a Lava Jato para crescer no polo de oposição ao petista. Derrotado na Justiça, Lula se torna uma ameaça menor, e o eleitor passa a procurar outros elementos que formatarão seu voto.
A disputa pelo espólio do petista nas urnas também ficará distante de embates sobre corrupção. Para os eleitores lulistas, as acusações contra o ex-presidente não eram um obstáculo intransponível: quase 70% deles diziam que o ex-presidente sabia de malfeitos ocorridos em seu governo. Ainda assim, topavam votar no petista por outras razões.
Sem Lula, o peso da corrupção tende a ser distribuído e o terreno se torna fértil para o crescimento de nomes que denunciam uma roubalheira generalizada, criticam uma política apodrecida ou atacam a ordem econômica vigente. Largam na frente Jair Bolsonaro (PSL),Joaquim Barbosa (PSB) e, em certa medida, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT).
Esse quarteto pode se alimentar da desilusão crescente dos eleitores. Candidatos empacotados como outsiders ou que ostentem discursos de ruptura têm potencial para atrair tanto eleitores lulistas desencantados quanto aqueles que ficaram satisfeitos com a prisão do ex-presidente e passaram a cobrar uma depuração completa do sistema.
As eleições municipais de 2016 surfaram na agitação pós-impeachment para fabricar prefeitos que destoavam do figurino tradicional da política, mas a onda pareceu refluir. Com um quadro cada vez mais desgastado, a disputa presidencial pode dar novo fôlego a esse fenômeno.
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