- Valor Econômico
Única certeza do PP é que presidente eleito dele dependerá
Com a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do páreo, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) ainda não tem candidato, mas a indefinição do quadro eleitoral é a última de suas preocupações. À frente da segunda maior legenda do país, depois de 15 novas filiações, o PP será poder seja quem for o presidente eleito.
O senador desconhece o rumo a ser tomado pelas principais campanhas, mas, desde já, não faz objeções a quaisquer candidatos. Tem certeza de que o grau de pulverização é tamanho que o eleito, seja quem for, será pra lá de minoritário e não poderá prescindir do seu apoio. Não exatamente porque o PP terá uma bancada gigantesca. Conta com 54 hoje. Espera chegar a 60.
No discurso com o qual se coloca como o fiador do próximo presidente da República, o PP não mede relevância pelo tamanho. Seu documento é outro. Tornar-se um grande partido e não um partido grande. A dança da adjetivação distingue um e outro pela unidade.
Ciro Nogueira teme gente demais. Não quer outro MDB. Desembestada, a legenda do presidente da República perde valor de face. Desde a eleição, ficou desprovida de dez cadeiras, uma a mais que o desfalque do PT.
O PP não quer lançar candidato a presidente e tem candidaturas residuais a governador. O exercício do poder por emedebistas e petistas ensina que ter restaurante talvez não seja o melhor negócio. Mais vantajoso é ser maitre de equipes bem adestradas no parlamento. Nogueira está mais para comensal, mas serviu, como ninguém, aos desejos daqueles a quem se aliou nos últimos anos.
O senador entregou de bandeja o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, de quem foi ministro e aliado até a véspera. Integrava o Centrão, bloco formado ainda pelo PR, de Valdemar Costa Neto e o PSD, de Gilberto Kassab. Esteve também na linha de frente de um Congresso que barrou as duas votações que poderiam ter custado o mandato do sucessor, Michel Temer.
Com o país nas mãos de um governo congressual, buscou uma nova configuração com a qual pretende comandar o Legislativo até o fim dos tempos. No dia em que o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures apareceu correndo com uma mala de dinheiro, um cacique do DEM do Nordeste baixou em Brasília. Queria o partido na liderança do impeachment de Temer.
O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), já na Presidência da Câmara e primeiro da linha sucessória, sacudiu-se, mas quis saber a opinião de Nogueira. O senador abortou a precipitação dos jovens interlocutores. Nunca havia sido flagrado rasgando dinheiro. Não seria aquela a primeira vez. Acabara de derrubar uma presidente porque perdera, em grande parte, seu quinhão no governo. Começava a recuperar o que tinha. Ia partir pra cima de novo a troco de que?
O novo golpe não prosperou. Nogueira e Maia decidiram ficar juntos para o que der e vier. Aonde um vai o outro vai atrás. Se o deputado do DEM vier a abrir mão de seus superpoderes em nome de uma improvável Presidência da República, o PP não lhe negará o tempo de televisão, ainda que Nogueira, pessoalmente, possa vir a optar por uma candidatura mais palatável aos seus eleitores. O senador é candidato à reeleição em aliança com o governador de seu Estado, Wellington Dias (PT).
Juntos, PP e DEM têm quase 100 deputados, que, na melhor das hipóteses, podem chegar a 120 em outubro. Buscam se diferenciar dos antigos parceiros do Centrão com o discurso de que são mais leais ao poder do que aliados BBB (boi, bala, bíblia). O discurso pega, mas é enfeitado. O Banco de Dados do Legislativo do Cebrap mostra que o partido com maior disciplina partidária em relação ao governo em 2017 foi o MDB. O DEM vem em quarto e o PP num longínquo 13º lugar.
O balanço, para o PP, tem pouca serventia. Os números que, para o partido, demonstram, de fato, seu valor de face são aqueles das duas votações que impediram a saída do atual titular. Entre uma e outra, Temer perdeu votos. PR e PSD, cristãos-novos nesse negócio, reduziram seu apoio. O PP e o DEM, de fato, aumentaram sua adesão ao governo entre os quase três meses que separaram as duas votações. Mas não foram os únicos. O MDB do presidente não apenas foi o partido de maior sustentação a Temer como fez crescer esse apoio entre os dois escrutínios.
Mas a propaganda é a alma deste negócio, a começar pelas siglas. A Arena de hoje é liderada pelo Partido Progressista e pelo Democratas. Se o garantismo está em baixa no Supremo, segue a todo vapor no Legislativo. E a retribuição vem a galope.
O PP tem hoje duas das pastas mais gordas da Esplanada, Saúde e Cidades. O maitre não em interesse em poupar para adquirir restaurantes, mas seus garçons racham polpudas gorjetas. Ciro Nogueira constituiu uma comissão de cinco deputados que vai definir os critérios de distribuição do fundo partidário de R$ 134 milhões. Neste momento, a gorjeta o blinda.
Desde o mensalão, chefes partidários têm sido expostos à negociação com os financiadores da política. O fundo não interfere no varejo da corrupção, mas reduz o imperativo dessa exposição no atacado da indústria eleitoral. Especialmente num momento em que a relação entre política e dinheiro está minada pela desconfiança.
Alvo de delações, Ciro Nogueira está denunciado na Lava-Jato. Seu partido é recordista em réus na operação. O senador adota o discurso de que o país tem que ser passado a limpo e diz não temer o efeito cravo-e-ferradura da prisão de Lula. Os operadores do novo eixo legislativo, no entanto, marcaram o 12 de setembro da posse do ministro Dias Toffoli como o dia em que poderão respirar mais aliviados.
Esperam que até lá, a bancada esteja encaminhada, com base na entrega das benesses eleitorais que bons cargos deste governo lhes asseguraram. Não se peça a Nogueira compromisso com um programa. Defende a redução do Estado, desde que não lhe cerquem o quintal. E evita se comprometer com esta ou aquela reforma da Previdência. Não tem dúvidas de sua sigla é de centro-direita e identificada ao agronegócio, mas atribui o norte à bancada. É de um deputado do PP, por exemplo, o relatório que repassa para a tarifa de energia o aumento nos custos do gás das usinas térmicas.
O futuro presidente, a ser eleito na era da caça às bruxas, tende a ser moldado pelo prende-e-arrebenta. Por isso, mais do que nunca, o partido precisa seguir unido. É o que manterá seu valor de face, o fio afiado da navalha e os valores da nova política.
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