As crises que abalam, por diferentes razões, as economias de alguns emergentes começam também a corroer - embora lentamente - as exportações brasileiras para esses países. E essa tendência é ainda mais preocupante no atual cenário de incertezas sobre o comércio internacional depois que o presidente Donald Trump desencadeou uma série de disputas com potências como a China e a União Europeia. A guerra comercial em curso poderá eventualmente favorecer o Brasil na medida em que o país poderá substituir os americanos no fornecimento, por exemplo, de soja para os chineses, mas esta ainda é uma hipótese a ser verificada ao longo dos próximos meses.
Por enquanto, a balança comercial do país continua colecionando saldos positivos. Já são evidentes, porém, os sinais de desaceleração do ritmo das exportações. Em junho, o superávit atingiu US$ 5,8 bilhões - o que significa uma redução de 18,1% em comparação com o mesmo mês do ano passado. O saldo de junho é resultado de US$ 20,20 bilhões em exportações - alta de 2,1% contra junho de 2017 - e de US$ 14,32 bilhões em importações - avanço de 13,7%, sempre considerando a média diária. O superávit acumulado no primeiro semestre foi de US$ 30 bilhões, com recuo de 17% contra igual período do ano passado.
Como informou o Valor na semana passada, ao divulgar esses dados, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços ressaltou que houve impacto negativo da greve dos caminhoneiros nas exportações, principalmente nos primeiros dez dias do mês de junho. Analistas concordam com o efeito da paralisação, mas destacam que o movimento apenas agravou o quadro, já que os superávits perdem fôlego desde o início do ano.
Um dos países para o qual o Brasil está vendendo menos é a Argentina. De acordo com as estatísticas do Mdic, no primeiro semestre do ano passado, os brasileiros venderam US$ 8,85 bilhões para o país vizinho; neste ano, o total ficou em US$ 8,30 bilhões, uma redução de quase 8%, que se torna mais relevante ao se levar em conta que a Argentina é o segundo maior comprador de produtos do Brasil, só sendo superado por China e Estados Unidos.
Como se sabe, a Argentina enfrenta neste ano uma séria crise econômica, provocada, em parte, pela seca mais severa dos últimos 50 anos. A quebra da safra de grãos frustrou o governo Mauricio Macri, que apostava que a agricultura contribuiria para um avanço de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país argentino. Recentemente, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires divulgou que a quebra de safra na Argentina gerou uma perda de US$ 5,895 bilhões, o que significa 0,86% do PIB do país. O montante que deixou de ser agregado à economia argentina é quase o dobro do estimado pela bolsa em março e leva em conta quanto o país teria ganho se suas projeções iniciais para safra tivessem sido alcançadas.
Fenômeno semelhante ocorre com as relações bilaterais com o Chile, que, no ranking dos que mais importam bens e serviços do Brasil, encontra-se em quinto lugar. No primeiro semestre de 2017, foram exportados US$ 2,99 bilhões; neste ano, US$ 2,48 bilhoes. O que representa uma diminuição de 17%. Como outros exportadores de commodities, o Chile sofre com a queda dos preços internacionais.
Também houve queda nas exportações brasileiras para outros países latino-americanos, notadamente Uruguai, Colômbia e Equador.
Mais significativa ainda foi a redução nas exportações para outro emergente, a Turquia, 26º maior comprador de produtos vendidos pelo Brasil, à frente de outros parceiros como Hong Kong e Irã. Neste ano, nos seis primeiros meses, houve uma diminuição de 35% nas exportações brasileiras para a Turquia. O país enfrenta sérios problemas econômico-financeiros e sua moeda tem sido uma das campeãs de desvalorização frente ao dólar recentemente. Em junho, as moedas emergentes de forma geral recuaram 2,33%, segundo índice do Deutsche Bank, caindo para os níveis mínimos em 14 meses. Desde a máxima de janeiro, a queda é de 9,59%.
As divisas da Argentina e da Turquia lideram a lista dos piores desempenhos no mundo. O peso recua 32% desde o começo do ano, enquanto a lira turca perde 18%.
Por outro lado, Brasil, China, Índia, México e Rússia estão entre os "menos vulneráveis", devido à "baixa" dependência de fluxos externos. Isso não impede, porém, que o real caia quase 15% em 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário