- Folha de S. Paulo
Ninguém estava realmente interessado em discutir a responsabilidade do prefeito
Os líderes do PSOL tentavam explicar que “nem todo impeachment é golpe”, enquanto o MDB dizia que derrubar um governante eleito pela população seria um “deboche com a democracia”.
Além do tom de escárnio, a sessão da Câmara do Rio que discutiu a abertura de uma investigação contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB) mostrou que a política se move de acordo com os mais leves ventos das conveniências partidárias.
A oposição pediu o impeachment de Crivella depois que ele foi gravado pelo jornal O Globo oferecendo vantagens da prefeitura a 250 pastores evangélicos. O episódio forçou um contorcionismo dos grupos que se mobilizaram a favor e contra a derrubada de Dilma Rousseff.
Dirigentes petistas tentaram manter a coerência. Disseram ser contra a “banalização” do impeachment e defenderam a permanência de Crivella. “Por mais incompetente que seja esse prefeito, ele foi eleito pelo povo”, afirmou Washington Quaquá, presidente do PT no Rio. Apesar dos apelos, os dois vereadores do partido votaram contra Crivella.
O PSOL, que considerou a derrubada de Dilma uma farsa, buscou se acomodar à nova realidade. “Quando não tem crime de responsabilidade e fazem um impeachment, é golpe. Mas o impeachment é previsto quando existe crime de responsabilidade”, disse Marcelo Freixo (PSOL).
Do lado oposto, o MDB de Michel Temer engrossou a defesa do prefeito. “Quem vai dizer se ele deve governar a cidade é lá em 2020 e não através de golpe”, declarou Dr. Jairinho (MDB). Ao longo da sessão, uma claque pró-Crivella gritava o bordão do movimento anti-impeachment de Dilma em 2016: “Não vai ter golpe”.
Em menos de quatro horas, os vereadores cariocas enterraram o pedido da oposição e as incoerências do caso. Crivella se segurou no poder graças à redistribuição de cargos da prefeitura para os vereadores. A política superficial prevaleceu. Nenhum dos dois lados estava realmente interessado em discutir as responsabilidades de um governante.
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