sexta-feira, 13 de julho de 2018

PT tem apoio e rejeição em setores do PSB

Partido garante suporte de governador de Pernambuco, mas Márcio França rejeita aliança em São Paulo

Gustavo Schmitt e Maria Lima | O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, fez ontem duas incursões em busca do apoio do PSB a uma candidatura presidencial petista e obteve reações antagônicas. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, garantiu apoio do partido à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou ao candidato que ele indicar ao Planalto, independentemente da retirada do nome de Marilia Arraes, pré-candidata petista e rival do PSB no estado. Já o governador de São Paulo, Márcio França, rejeitou o apoio do PT, mesmo com Gleisi acenando com a retirada da pré-candidatura de Luiz Marinho ao governo do estado.

A ofensiva de Gleisi foi estratégica. Os diretórios do PSB em Pernambuco e São Paulo, junto ao da Paraíba, com o qual o PT também já iniciou discussões, garantiriam maioria na Executiva Nacional do PSB por uma aliança nacional com o PT. Gleisi buscou seduzir Márcio França, oferecendo apoio à sua reeleição ao governo de São Paulo com a retirada da pré-candidatura de Luis Marinho. França, porém, rejeitou o apoio, temendo o desgaste do PT no estado.

Depois de se encontrar com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, acompanhada do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) e do tesoureiro Márcio Machado, Gleisi foi a Recife se encontrar com Paulo Câmara. O governador pernambucano, que na véspera reunira-se com Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência e que também busca o apoio do PSB, reiterou sua defesa pela aliança nacional com os petistas. Câmara foi além e fez um aceno ao PT no encontro com Gleisi no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.

PRIORIDADE NACIONAL
Segundo interlocutores, Câmara afirmou que os socialistas daquele estado vão apoiar a candidatura petista mesmo que o partido não retire o nome de Marilia Arraes da disputa em Pernambuco. A candidatura da neta do ex-governador Miguel Arraes poderia tirar votos do governador e dificultar sua reeleição.

Questionado sobre o significado do encontro que teve com Ciro Gomes na quarta-feira, Câmara minimizou o assunto:

— Eu tive um encontro rápido com Ciro. Mas ele sabe do nosso posicionamento em Pernambuco, que é prioritariamente uma aliança com o PT. Isso é o que estamos defendendo. Vamos fazer todos os esforços para que essa aliança se concretize.

O interesse de Câmara na aliança com o PT se apoia sobretudo na força de Lula no estado e no Nordeste.

Após o encontro, Gleisi deu sinais de que gostou do que ouviu. Em entrevista à imprensa local, a presidente do PT não poupou elogios à Marília, mas destacou que a aliança nacional com o PSB é a prioridade do partido. Ela afirmou que espera que a aliança seja definida até o dia 5 de agosto, último prazo para a realização das convenções partidárias.

— Marília é uma grande companheira. Aliás, a gente acha que é uma novidade na política: mulher, jovem e batalhadora. Foi correto o posicionamento dela de manter a candidatura, mas a gente tem conversado muito sobre a importância da aliança nacional. O PT tem uma base (em Pernambuco) que quer uma candidatura, mas eles entendem a estratégia nacional. E sabem que o que muda a vida do povo é um projeto nacional — afirmou Gleisi.

Com o apoio do PSB pernambucano, o PT também neutraliza Ciro Gomes, que, caso conquistasse a adesão dos socialistas, teria mais 45 segundos de tempo de TV, o que fortaleceria sua candidatura. Entretanto, a estratégia do PT de isolar Ciro esbarrou na disposição de Márcio França de continuar pregando a neutralidade do partido.

— Gleisi voltou a falar na ideia de tirar a candidatura de Luis Marinho e a bater na tecla que já está doendo no ouvido, de tirar a candidatura de Marilia em Pernambuco. Paulo vai apoiar o PT, mas com Márcio, que detém o maior diretório, não rolou. O Márcio jamais vai entrar nisso. Não há interesse dele em ter o apoio do PT por causa do alto índice de rejeição do partido em São Paulo. Ele pode ir para o segundo turno, e o PT atrapalhar. Não existe uma maioria pró-PT hoje e se não for apoio a Ciro, o PSB vai liberar — contou um dos interlocutores de Siqueira, após o encontro com Gleisi.

Com o impasse, para ganhar tempo, Paulo Câmara pediu o adiamento da reunião da Executiva, marcada para os dias 18 e 19 de julho. Mas cresce no partido o sentimento de que é preciso evitar um racha e priorizar a eleição do maior número possível de deputados federais. Além de São Paulo, Gleisi ofereceu apoio do PT ao PSB no Amazonas. Outro entrave à aliança nacional é o diretório de Minas Gerais, que se recusa a apoiar a reeleição do governador Fernando Pimentel (PT).

— Essa aliança nacional para Minas é muito ruim. Imagina ter que apoiar o Pimentel, que não pode nem sair na rua? A prioridade é não deixar o partido rachado. Melhor é caminhar nessa ideia de liberar (os diretórios) e vamos cuidar de nossos candidatos a governador e a deputado — defendeu um pessebista mineiro.

NEUTRALIDADE É VISTA COMO RISCO
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, continua conversando com os dois lados. Mas, segundo seus interlocutores, sua posição sempre foi a de apoiar algum candidato, porque seria muito ruim ficar neutro em um momento crucial da política nacional. Se não houver um entendimento, no entanto, ele vai atuar para evitar uma disputa interna. Siqueira diz a seus interlocutores que se o preço da unidade for esse, o partido irá liberar para que cada governador negocie suas alianças nos estados.

O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, é um dos que vem defendendo o apoio do PSB a Ciro desde o primeiro momento. E tem se posicionado fortemente contra a liberação dos diretórios.

— Seria lamentável que um partido com a história de luta do PSB se omitisse no momento mais delicado da história do país. Ciro é uma homem preparado. Conhece bem o Brasil. Foi prefeito, governador, ministro da Fazenda e da Integração Nacional e por onde passou fez um bom trabalho. É quem reúne, hoje, as melhores condições para unificar as forças progressistas e dar um caminho ao Brasil — defende Rollemberg.

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