O estúpido atentado contra a vida de Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência, acrescentou mais uma excepcionalidade às eleições deste ano. O primeiro lugar nas pesquisas, antes de o TSE declarar oficialmente sua inelegibilidade, o ex-presidente Lula, e o segundo colocado, Bolsonaro, não poderão participar ativamente das campanhas. Lula está preso em Curitiba e Bolsonaro no hospital, em um repouso forçado que o deixará longe das ruas pelo menos até o fim do primeiro turno. O esfaqueamento de Bolsonaro produziu mudanças na disputa eleitoral, embora não tenha o poder, pela comoção, de alterar significativamente suas chances na corrida eleitoral.
O ato contra a democracia que feriu Bolsonaro promoveu uma bem-vinda suspensão do ânimo bélico para o qual a campanha política vinha rumando e que tinha no próprio candidato do PSL um dos mais virulentos contendores. Todos os candidatos não hesitaram em condenar o atentado e prometer aprofundar o debate de ideias, o verdadeiro campo democrático de combate eleitoral. Alguns candidatos fizeram pouco dos tiros contra a caravana de Lula antes, mas o feito de Adélio Bispo de Oliveira, um desequilibrado mental, mostrou de fato aonde um clima de radicalização poderia levar - à eliminação física de contendores. O debate entre presidenciáveis, promovido no domingo pela TV Gazeta e o jornal "O Estado de S. Paulo", mostrou um tom de embate propositivo, no qual o antagonismo é profícuo, como costuma ser em uma democracia.
Dispondo de alguns poucos segundos no horário gratuito e ausente dos debates, Jair Bolsonaro reduzirá exponencialmente sua presença na TV, ainda uma grande eleitora. Terá de concentrar forças aonde já fincou sua marca, nas redes sociais, e não deverá contar com mais nada. A força que elas revelarão na atração e convencimento dos eleitores, diante do poder da campanha convencional pela TV, é ainda uma incógnita. O candidato do PSL se restringirá a um meio que sabe explorar.
As chances do candidato do PSL estão aonde estavam antes do vil ataque a faca. Na margem, Bolsonaro parecia estar perto do teto de apoio que poderia obter, enquanto que sua rejeição dava novos saltos. A solidariedade diante de um ato cruel que visava retirá-lo da disputa trará um avanço inicial nas pesquisas que serão divulgadas agora, sem que isso signifique fôlego maior na corrida eleitoral. A martirologia servirá para unir ainda mais seus já fiéis apoiadores, embora a questão mais difícil para sua campanha seja a de sair desse círculo grande, e ainda restrito, do eleitorado.
O atentado não mudou a cabeça de Bolsonaro, que continuará a propagandear as poucas e péssimas ideias que tem dentro dela. A mais propagandeada delas, a do direito massivo de uso de armas pela população, talvez já o tivesse levado ao cemitério se em vigor - é óbvia a diferença de letalidade entre um revólver e uma faca. Tampouco os lemas que aglutinam seu eleitorado são de ordem a extrapolar o círculo dos convictos. O machismo tonitruante do candidato o alienou da maioria dos votantes - os do sexo feminino. Seus ataques a minorias tem merecido ampla condenação e o STF está às voltas com um julgamento de Bolsonaro por racismo.
Seu programa econômico depende apenas da equipe comandada por Paulo Guedes. Pelo passado de Bolsonaro - estatista e nacionalista - poderá, se vencer as eleições, convidar o economista a pregar suas ideias liberais em outro lugar. Falta convicção e pregação do candidato, ele próprio, sobre suas propostas econômicas, que são hoje mais que nunca decisivas para a escolha do eleitor.
Ainda que possa subir nas pesquisas de imediato, manter-se à frente nas circunstâncias em que se encontra será difícil para Bolsonaro. Se ele estacionasse aonde já está provavelmente passaria para o segundo turno. Candidato com mais recursos e maior tempo de TV, o tucano Geraldo Alckmin necessita atrair simpatizantes de Bolsonaro, especialmente no Sul, onde está bem atrás e pouco progride, e no Estado de São Paulo, onde seu partido governou por mais de duas décadas. Por isso a campanha eleitoral de Alckmin mirou o candidato do PSL com propagandas fortes e a trégua será fatalmente passageira. Por ideologia, programas ou conveniências, os outros candidatos não têm motivos para poupar o belicoso Bolsonaro, suas propostas e suas provocações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário