- O Globo
Caminho para a educação é olhar para os bons exemplos. Há notícias positivas no meio do grande quadro de estagnação no ensino médio
É preciso aprender com os estados que avançaram no Ideb. Não se pode ignorar o tamanho no nosso atraso, mas como a desistência não é uma opção, é fundamental olhar os bons exemplos. Goiás e Espírito Santo foram os destaques do ensino médio este ano e a análise dos dois casos mostra uma mistura de melhora da gestão com maior foco nos fatores socioemocionais. O Ceará, um sucesso nos anos iniciais e finais, deu um salto no ensino médio. Pernambuco também é exemplo.
Na rede estadual pública do ensino médio, Goiás foi para o primeiro lugar e o Espírito Santo ficou em segundo. Quando o índice é da rede pública e privada, os dois se alternam: Espírito Santo vai para o primeiro e Goiás para o segundo. Quando se pergunta às pessoas que estão ou estiveram à frente desse processo exitoso nos dois estados, eles apontam para Pernambuco como sendo uma inspiração, que desta vez ficou em terceiro lugar mas que tem ensinado como superar o estrangulamento do ensino médio. O salto do Ceará foi impressionante: saiu do 12º lugar para o quarto, o que é mais animador diante do sucesso já comprovado do estado no fundamental.
O caminho é olhar os bons exemplos. Como escreveu ontem o jornalista especializado em educação Antonio Gois, “o pessimismo exagerado é tão paralisante quanto o otimismo descolado da realidade”. Penso assim também. Há notícias boas, no meio do grande quadro de estagnação nacional no ensino médio.
O Espírito Santo e Goiás se alternam em outros indicadores. Os capixabas tiraram a melhor nota em proficiência, e os goianos a maior taxa de aprovação. Os dois fizeram um bom trabalho. O secretário de educação do Espírito Santo, Haroldo Correa Rocha, contou que o primeiro passo foi estudar o exemplo de Pernambuco, inspirado no empresário Marcos Magalhães, do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação:
— Não tinha certeza na época de que era possível replicar o modelo, mas trouxemos a metologia e aplicamos na Escola Viva, que tem horário integral, oferece um conjunto de outras matérias eletivas e investe no desenvolvimento socioemocional.
Essas escolas são apenas 10% do total do ensino médio público capixaba, mas outra tecnologia, do Instituto Unibanco, foi implantada nas que têm cinco horas de aula:
— O importante é fazer o trabalho de apoio emocional, todo mundo está fragilizado. A escola precisa ser acolhedora e impulsionar o aluno. As escolas com cinco horas têm planos de ação e sistema de acompanhamento dos alunos. E, além disso, a gestão é fundamental. Não foi com mais dinheiro, foi com melhor gestão que avançamos. Aqui a recessão foi mais forte do que em outros estados, e nós melhoramos.
O Espírito Santo estava em 10º lugar em 2013, foi para quarto lugar em 2015 e agora chegou ao segundo. Goiás saiu do 16º lugar em 2009 para o quinto em 2011. Em 2013, ficou em primeiro, mas em 2015 caiu para segundo e em 2017 voltou ao primeiro, deslocando São Paulo.
O deputado Thiago Peixoto, que foi secretário de Educação de Goiás de 2011 a 2013, e depois ocupou a Secretaria de Planejamento, conta que a mudança começou com melhor gestão:
— Implantamos um plano de reforma e de adoção de boas práticas. Sempre se diz que investimento em educação só se vê a longo prazo. Quis inverter essa lógica e buscar o resultado a cada dia. Havia 29 mil professores efetivos e 14 mil não estavam na sala de aula, tivemos que mudar isso. Criamos um sistema de bônus para o professor que não faltasse e fizesse planejamento de aula. Além disso, o sistema passou a ter foco no aluno.
Thiago também se inspirou no empresário do terceiro setor Marcos Magalhães e foi ao Ginásio Pernambucano, experiência pioneira, para ver como replicar o modelo. Conta que fizeram grande investimento em modelos pedagógicos e na formação de diretores.
O Ceará tem uma história muito bem sucedida nos anos iniciais e finais do fundamental, mas não avançava no ensino médio. Perguntei sobre isso a Ciro Gomes na sabatina da Globonews e ele disse que o Ideb traria uma boa notícia. E trouxe. O estado saiu do 12º lugar para o quarto lugar. No ensino fundamental, anos iniciais e finais, Ceará tem excelente desempenho. O Brasil tem tido bons casos em educação. Eles acontecem em cidades como Sobral ou Brejo Santo, que eu visitei, ou em escolas como o Ginásio Pernambucano, que também visitei no ano passado. Há tecnologia sendo desenvolvida. É preciso replicar os bons exemplos.
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