- Folha de S. Paulo
Tinha, em grau de excelência, as qualidades do pensador e do organizador da cultura
Helio Jaguaribe foi o pensador de um Brasil que acreditava no futuro. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) foi uma instituição na qual esteve pouco tempo, mas onde deixou sua marca.
Não foi o único dos pensadores do desenvolvimento numa época em que a industrialização era o sonho de muitos intelectuais brasileiros. Mas entre esses, foi um dos maiores.
Para Jaguaribe, o Brasil do futuro haveria de realizar o sonho de uma sociedade desenvolvida em sentido democrático pleno. Deveria ir além dos limites de um território do mercado, atingindo a expressão de uma personalidade cultural de significação mundial.
Criado em 1955 por iniciativa de Jaguaribe, o Iseb entrou em crise três anos depois, em meio a um debate suscitado por críticas de Alberto Guerreiro Ramos ao livro "O Nacionalismo na Atualidade Brasileira", do próprio Jaguaribe.
O alcance das divergências internas do instituto alcançou nova luz alguns anos depois, com o golpe militar de 1964. Considerando todos os fundadores do Iseb como inimigos, obrigou a que todos acabassem por sair do país, a começar por Helio Jaguaribe e Guerreiro Ramos, que foram em diferentes momentos acolhidos por universidades americanas.
Jaguaribe foi um criador de instituições intelectuais. Antes do Iseb, organizou a participação de alguns intelectuais numa página de debates no Jornal do Commercio, sobre temas do país.
Era o ponto de partida do Grupo de Itatiaia, origem do Ibesp (Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política), onde foram publicados, até 1956, os Cadernos do Nosso Tempo.
O último numero dos Cadernos, de inícios de 1956, traz uma ampla análise das perspectivas do governo Kubitsheck, além de um amplo ensaio sob o título "Para uma Política Nacional de Desenvolvimento", que antecipou muitos temas do Iseb e até mesmo do Plano de Metas do novo governo.
Jaguaribe tinha, em grau de excelência, as qualidades do pensador e do organizador da cultura.
Entre seus livros mais notáveis, além de "O Nacionalismo na Atualidade Brasileira", cabe mencionar também "Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimento Político", de 1962.
Embora tendo que me limitar apenas a alguns títulos em meio a uma obra imensa, há que mencionar ainda, de elaboração mais recente, os dois volumes sob o título "Um Estudo Crítico da História", de 2001, obra magna que nos oferece um amplo panorama da história das civilizações.
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Francisco C. Weffort é cientista político e professor emérito da USP
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