sábado, 22 de setembro de 2018

Diferença entre cartas é sutil mas determinante para 2º turno

Maria Cristina Fernandes | Valor Econômico

SÃO PAULO - As cartas de Fernando Henrique Cardoso e aquelas que começaram a circular ontem em defesa de uma candidatura de centro têm uma diferença sutil mas relevante. Enquanto a carta do ex-presidente não cita um único candidato, nem mesmo o do seu partido, as demais são abertamente em defesa de uma candidatura de centro que reúna Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), João Amoedo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB).

Em mensagem em rede social no início da noite, o ex-presidente explicou sua carta: “Enviei carta aos eleitores pedindo sensatez e aliança dos candidatos não radicais. Quem veste o figurino é o Alckmin, só que não se convida para um encontro dizendo “só com este eu falo.”

No texto, o ex-presidente faz referências claras ao PT, a Ciro Gomes e a Jair Bolsonaro, mas sem citá-los. Critica aqueles que se lançaram “com verocidade ao butim do Estado” e hoje opõem “eles” contra “nós” e o “demagogo, ainda que bem intencionado”. Vale-se ainda da mesma crítica da ex-presidente Dilma Rousseff e de Marina Silva ao candidato do PSL: “Basta de pregar o ódio, tantas vezes estimulado pela própria vítima do atentado”. Mas resiste, até o final da carta, a carrear o apelo para os quatro do centro: “Pensemos no país e não apenas neste ou naquele candidato”.

Nas demais cartas, ao contrário, as referências são mais que explícitas. Aquela escrita pela economista Eliana Cardoso em parceira com o cientista político Bolívar Lamounier iguala Fernando Haddad a Bolsonaro como ameaça para o Brasil e para a América Latina, o candidato petista por um programa econômico “catastrófico” e o do PSL, pelo extremismo de direita.

O texto revela o receio claro de que a base eleitoral do chamado centro migre para Bolsonaro: “Para os brasileiros desesperados por se verem livres de traficantes de drogas, assassinos e políticos corruptos, Bolsonaro se apresenta como o anti-Lula. Se enfrentar Fernando Haddad, muitos eleitores de classe média e alta, que culpam Lula e o PT acima de tudo pelos problemas do Brasil, podem ser convencidos por suas visões autoritárias”.

Na carta apócrifa que circulou no mercado, escrita pelo advogado Miguel Nicácio, como revelou o Valor, Haddad e Bolsonaro também são igualados: “Os candidatos de extrema-direita e extrema esquerda destilam ódio e medo”. Só o “desprendimento e a generosidade” dos candidatos de centro seriam capazes de salvar o país.

O diferença das cartas de Fernando Henrique e daquelas que começam a proliferar nas redes dá conta das dificuldades de Haddad e Ciro, se eleitos para o segundo turno, virem a juntar a base social que hoje está com Alckmin, Marina, Meirelles e Amoedo contra Bolsonaro. As pesquisas indicam que nenhum dos quatro aparece como candidato a receber a migração de votos da reta final.

No mercado financeiro, a indicação nesse sentido ficou clara quando os indicadores ficaram inertes à desautorização de Paulo Guedes, economista da campanha do PSL e seu avalista junto a investidores, por seu candidato a presidente depois da proposta de recriação da CPMF.

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