sábado, 22 de setembro de 2018

Candidatos rejeitam união sugerida em carta de Fernando Henrique

Para Ciro, ex-presidente tenta ‘ressuscitar’ campanha tucana; Alckmin elogia o aliado, mas descarta procurar apoio de rivais

Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Dimitrius Dantas, Regina Bochicchio | O Globo

APARECIDA (SP), BRASÍLIA E SALVADOR - Fato político novo numa semana em que as pesquisas de intenção de voto confirmaram a tendência de alta de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), a carta aos eleitores divulgada na noite de quinta-feira pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou resistência entre os candidatos que precisam crescer. Até mesmo por parte de seu correligionário tucano, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB).

Na sua carta, Fernando Henrique sugeriu que candidatos de centro unissem esforços contra a polarização protagonizada pelo PT e pelo ex-capitão, a fim de evitar o que seria, em sua visão, um segundo turno de extremos. Depois, o ex-presidente ratificou sua preferência de que esse nome de consenso fosse o de Alckmin. 

Terceiro colocado nas pesquisas, Ciro Gomes (PDT) não é considerado por FH um dos candidatos de centro, mas foi quem teve a reação de discordância mais forte à carta. —O Fernando Henrique é um encantador de serpentes. Ele está querendo ver se cria alguma forma de ressuscitação da candidatura do PSDB — provocou, após caminhada em Pindamonhangaba, sua cidade natal, no interior de São Paulo.

‘BOI VOAR DE COSTAS’
Depois, em Brasília, o pedetista afirmou que Fernando Henrique está se preparando para votar em Fernando Haddad no segundo turno, referindo-se à boa relação que o petista tem com o ex-presidente tucano.

— É muito mais fácil um boi voar de costas (do que ocorrer uma união de candidaturas). O FHC não percebe que ele já passou. A minha sugestão para ele, que ele merece, é que troque aquele pijama de bolinhas que está meio estranho por um pijama de estrelinhas. Porque, na verdade, ele está preparando o voto no Haddad. Ele só respeita seu próprio ego, e mais nada — disse aos jornalistas. Possível beneficiário da adesão de rivais proposta por Fernando Henrique, Alckmin elogiou o pensamento do ex-presidente, mas descartou procurar adversários.

—A carta é uma boa reflexão, concordo plenamente com a carta. Ela é uma reflexão sobre o momento político, dizendo que os extremismos não vão ajudar o Brasil a sair da crise. Não vou procurar candidatos, porque a ideia é uma reflexão junto ao eleitorado – disse o tucano em Recife, capital pernambucana, onde procurou mostrar ânimo apesar da baixa pontuação nas pesquisas. — (A carta) Ajuda porque temos uma eleição em dois turnos. O segundo turno é uma nova eleição.

O candidato Bolsonaro não tem a menor condição, numa situação dessas que estamos vivendo. Os últimos 15 dias são decisivos. Então, estamos animados, estamos no bloco de 9% e 10%, e podemos crescer. Em São Paulo, a gente já percebe isso – disse Alckmin.

Tanto Ciro quanto Alckmin mantiveram a estratégias de direcionar ataques tanto a Jair Bolsonaro quanto a Fernando Haddad. Em Brasília, à tarde, o candidato do PDT explorou os ruídos entre o candidato do PSL e o economista Paulo Guedes, eventual ministro da Fazenda num governo do capitão aposentado. Para Ciro, Bolsonaro não ouvirá Guedes “por mais de 15 dias". Já à noite, em Goiânia, o pedetista foi mais duro, chamando Bolsonaro de “nazista” durante um comício.

CRIAÇÃO DE RADICAIS
Já Alckmin esteve em Recife e depois seguiu para Salvador. O tucano usou Bolsonaro para atacar o PT. Em sua avaliação, o candidato do PSL só cresceu no imaginário popular por causa do ambiente de conflagração política criado pelos governos petistas.

— O Bolsonaro é muito culpa do PT. O Bolsonaro elege o PT, é o passaporte para o PT voltar. Quando você radicaliza de um lado, você cria radical do outro. Mas não é solução para o Brasil. À noite, Alckmin discursou sobre um pequeno trio-elétrico, no centro histórico da capital baiana, ao lado do presidente nacional do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e do candidato ao governo da Bahia, José Ronaldo (DEM).

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