É mais que previsível que um partido que, no governo, participou do maior escândalo de corrupção da história do país e causou, com políticas desastradas, a mais profunda recessão em um século, seja derrotado nas eleições presidenciais. Desde que retirado do poder por um impeachment, o PT sequer fez qualquer esforço honesto e público de autocrítica sobre seus erros ou sequer cogitou punir corruptos em suas fileiras. Com uma rejeição brutal e crescente, colaborou, com uma sucessão de maus passos, para que um partido de direita inexistente, o PSL, e um político obscuro, Jair Bolsonaro, ganhassem o favoritismo na corrida ao Planalto. Uma virada agora, pelas pesquisas, é façanha pouco provável.
Ao não rever métodos, ideias, programas e comportamentos, o PT se enredou em contradições que nem seu mais experiente líder, Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção em Curitiba, foi capaz de livrá-lo. Ao primeiro sinal de que Haddad se tornara um candidato competitivo a adesão a um mutirão antipetista, capitaneado por Bolsonaro, consolidou-se.
Como líderes populares como Lula não criam sucessores naturais em sua sombra, a escolha da chapa foi uma epopeia desconjuntada. O PT denunciou o golpe do impeachment e bradou que "eleição sem Lula é fraude", insinuando até boicote ao pleito. Insistindo na tese da conspiração para destruir o PT apostavam, sem motivo, que Lula poderia ser o candidato. E, não sendo candidato, que seu escolhido carregaria consigo sua capacidade de angariar votos.
Com arrogância, o PT e Lula agiram para dinamitar qualquer possibilidade de uma frente que, agora, ao final do segundo turno, tentaram reeditar, sem sucesso. Isolaram o pedetista Ciro Gomes, convencendo raposas do velho centrão e o PSB a não apoiá-lo. Desprezou a necessidade de ampliar seu arco de votos e, por autoconfiança, formou uma chapa puro-sangue dando a vice a Manuela D'Ávila, do PCdoB, uma escolha inábil - e vacilante. O PT não hesitou depois em abraçar "golpistas", como Renan Calheiros e Eunício Oliveira, por conveniência eleitoreira, demonstrando que suas alianças com o que há de pior na política brasileira, que lhe cobraram a fatura de vários escândalos, nunca o incomodou de fato.
Lula só sagrou seu substituto, Fernando Haddad, a pouco mais de um mês antes do primeiro turno, perdendo um tempo precioso. Outros cobiçaram o posto do ex-prefeito paulistano, derrotado em primeiro turno quando tentou a reeleição e hostilizado por alas do partido. A estratégia de manter-se na mídia mesmo atrás das grades deu a Lula dianteira inútil nas pesquisas, mas relevou-se uma presença forte e inabalável nas pesquisas, a do capitão reformado Jair Bolsonaro.
A estratégia de Lula foi reagrupar a militância em torno de um programa de esquerda. A parte econômica não faz jus sequer à prática de Lula em seu primeiro governo e repete políticas desastrosas que, executadas por Dilma Rousseff, quebraram o Estado, provocaram uma recessão profunda e jogaram 14 milhões de pessoas no desemprego. Esse programa ainda poderia ser piorado, como o foi, quando o desespero tomou conta da campanha de Haddad no segundo turno. Ele prometeu tabelar o preço do gás de cozinha, elevar o salário mínimo acima da inflação e dar bom aumento ao Bolsa Família. A crise fiscal não existe, seria um mito.
Além da defesa de propostas autoritárias, como o controle social da mídia, a legenda declarou seu apoio à ditadura venezuelana, mesmo quando milhares de refugiados do país cruzavam as fronteiras do Brasil em busca da sobrevivência. Perto das peripécias de Nicolás Maduro, apoiadas pelo PT, a narrativa do golpe no Brasil tornou-se singularmente exótica.
O PT subestimou grave e fatalmente seu adversário mais perigoso, que não era, como imaginou, o tucano Geraldo Alckmin, mas Bolsonaro, escandalosamente poupado na campanha do partido no primeiro turno. O partido avaliou mal a enorme rejeição de que era alvo e sua própria contribuição para a aguda desmoralização do sistema político. Escolheu Bolsonaro como o rival mais fácil de ser batido, quando as candidaturas de centros afundavam em público. Bolsonaro, por seu lado, e com bons motivos, torcia para uma disputa final com o PT.
Na reta derradeira, Haddad fez um périplo melancólico atrás de aliados, que, recalcitrantes, lhe desferiram mais críticas que apoio, e que repetiram frases usadas por rivais: por omitir ou negar seus erros, o PT perderia a eleição - e merecia esse destino.
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